Dez

O filme abre com longo plano surpreendente, visceral. O garoto Amin (Amin Maher) entra no carro e enquanto a motorista, sua mãe (Mania Akbari) dirige pelas ruas da cidade segue-se um diálogo tenso e raivoso, cerca de 15 minutos com a câmera centrada no garoto. O diálogo, apenas ouvimos a voz da mãe/motorista, é sobre o divórcio dos pais, Amin não aceita a separação e culpa a mãe. 

Quando Amin desce do carro, a narrativa ganha seus contornos: mais nove passageiros, alguns repetidos, como o próprio Amin, entram e a trama se concentra nos diálogos da motorista com os passageiros. A marca neo-realista de Kiarostami, aliada à sua profunda crítica social dos costumes do Irã, está presente em cada conversa, a maioria sobre a situação das mulheres no país regido por leis conservadoras.

Os planos se alternam a cada mudança de personagem, ora fixo no passageiro, em outra conversa, fixo na motorista, em outra alternando plano e contra plano. Os momentos mais fortes ficam por conta do garoto Amin, retratado três vezes, e do longo diálogo da motorista com uma garota de programa – não vemos o rosto da passageira, é noite, a bela fotografia reflete luzes de faróis, o escuro das ruas, oscilações de iluminação, no rosto da motorista. Foi o primeiro filme de Abbas Kiarostami feito com tecnologia digital, pequenas câmeras acopladas ao painel do carro retratam de forma pungente conflitos íntimos de cidadãs subjugadas por leis e costumes severos. 

Dez (Ten, Irã, 2002), de Abbas Kiarostami.

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