
Juarez (Paulo Gracindo) está escrevendo uma carta para órgãos públicos reclamando da situação brasileira. Três amigos do passado, possivelmente já mortos, interagem com ele: um integralista, um funcionário público poeta e um imigrante italiano. Elvira (Fernanda Montenegro) também conversa com seu imaginário, a Santa, reclamando da falta de desejo de seu marido, Juarez. Na sua cabeça, Juarez tem uma amante.
Os conflitos internos desta típica família de classe média dos anos 70, que se completa com o filho relações públicas e a filha estudante, se misturam com a realidade: um grupo de operários está fazendo obras no apartamento; trabalham para o casal a empregada benzedeira e outra empregada (que completa seu orçamento se prostituindo nas ruas); por fim, a família de um dos operários chega ao apartamento e é alojada por Elvira e Juarez.
O filme se passa todo dentro do apartamento, na típica estrutura teatral, baseado inteiramente nos diálogos criados por Arnaldo Jabor e pelo roteirista Leopoldo Serran. As interpretações beiram o caricatural, os grupos de personagens atuando como em um picadeiro de circo, com sequências nonsenses. A ideia é recorrente, principalmente no cinema brasileiro contemporâneo: colocar personagens representantes de classes distintas interagindo, criando conflitos psicológicos e comportamentais, dentro de um ambiente fechado. Destaque para a empregada/prostituta (Zezé Motta) de botas longas e calcinha cantando Como nossos pais pelos ambientes diante do olhar estupefato de Aparecida de Fátima (Maria Silvia).
Tudo bem (Brasil, 1978), de Arnaldo Jabor. Com Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro, Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Zezé Motta, Stênio Garcia, Fernando Torres.