
A periferia de Goiânia é o ambiente para Comeback, filme que flerta com o thriller de ação e com o faroeste, carregando na composição psicológica do protagonista. Amador, um matador aposentado, recebe a incumbência de treinar o neto de seu amigo Davi. A relação entre os dois passa pelos relatos de Amador, cujas façanhas estão registradas em um álbum de recortes de jornais, incluindo a famosa chacina em um bar nas imediações. Ao mesmo tempo, dois cineastas fazem pesquisa para um filme e colocam em dúvida as histórias relatadas pelo matador que, segundo um deles, “não tem cara de pistoleiro.”
A melancolia está expressa nos diálogos entre Amador e seus antigos colegas de profissão, principalmente Davi, que espera a morte em um leito de hospital. Da mesma forma, o caminhar de Amador pelas ruelas à noite (interpretação primorosa de Nelson Xavier em seu último papel), percorrendo bares, tentando sobreviver à custa de instalação de máquinas caça-níqueis, revelam um homem amargurado, bem ao estilo dos pistoleiros decadentes retratados por John Ford e Howard Hawks nos anos 60. O final, que poderia ser a volta do título, é a constatação de que o passado está irremediavelmente impresso nas memórias do matador.
Comeback (Brasil, 2016), de Érico Rassi. Com Nelson Xavier (Amador), Marcos de Andrade (Neto do Davi), Everaldo Pontes (Davi), Gê Martú (Tio), Sergio Sartorio (Cineasta 1), Eucir de Souza (Cineasta 2).