Eduardo acordou e, em poucos segundos, rememorou a noite. Sempre ficava inquieto, cismava, quando ela dizia “é noite de lua cheia”. Com o tempo, descobriu que Marina, em noites destas, anda por outros mundos.
Ele acorda cedo. Ela, nem tanto. Libertou-se da coberta, notou as manchas de suor no lençol. Lua cheia. Dez minutos de água morna, depois a cozinha, o cheiro de café fresco…
Ouviu barulho. Foi até o quarto, Marina troca os lençóis, joga a roupa suja de lado. Ela nunca se importou com casa em ordem, coisas jogadas pelo chão. Enquanto ela penteia os cabelos, Eduardo deita na cama apenas para sentir o cheiro de cama e travesseiros novos.
Sentam-se juntos à mesa da manhã. Café com leite, um bolo de véspera, queijo derretido no pão. Caminham de mãos dadas até a banca. Compram a Folha de São Paulo, uma revista de decoração, outra de cinema. Jornais e revistas de domingo. Caderno de esportes, cultura, política, rápido olhar pela economia, fotos de casas, de gente bonita do cinema, manhã que passa despretensiosa.
À tarde, depois do sono leve, um filme. Compram os ingressos, andam pelo shopping, minutos antes da sessão começar, entram. Depois, a praça de alimentação. Eduardo toma chopp, Marina suco de laranja. Percorrem sem rumo algumas ruas da cidade, o carro em marcha lenta, faróis baixos iluminando um ou outro casal de namorados dizendo adeus na porta de casa. Lá pelas nove, estão em casa.
Ele coloca música, ela prepara algumas bobagens para comer. A pequena cachorra esparramada na sala, jornais desarrumados na mesa, pensamentos indefinidos. Marina está na cadeira de frente para Eduardo. Pega a revista, ajeita os cabelos atrás da orelha, de vez em quando levanta os olhos para o marido com um pequeno sorriso. A paixão pelo cinema invade a casa. Tudo na vida poderia ser como filme: música de fundo, o casal apaixonado trocando olhares, o close demorado, desses que ficam na memória, no belo rosto de Marina.
Eduardo e Marina ficam se olhando sem saber, o domingo adormecendo, a lua cheia despontando na janela.