A lei da fronteira

O novo cinema dos anos 60 se espalhou mundo afora renovando até mesmo cinematografias pouco difundidas. Na Turquia, o diretor Lutfi Omer Akad revisitou o gênero western, criando uma narrativa que mescla os clichês do gênero com o estilo neorrealista rico em conflitos sociais.  

Hidir é o líder de uma aldeia próxima à fronteira com a Síria. Ele atua como contrabandista, cruzando a fronteira, trazendo mercadorias e ovelhas para os poderosos chefes da cidade. É uma jornada arriscada, pois a divisa entre a Turquia e a Síria é recheada de minas terrestres. O comandante da policia tenta convencer Hidir a abandonar o contrabando, liderando a aldeia para aceitar a construção de uma escola para as crianças e no trabalho agrário. No entanto, os chefes locais forçam violentamente Hidir a continuar no contrabando. 

A progressão da trama levanta um aspecto decisivo para a renovação do cinema de gênero nos anos 60: o poder corrupto e opressor, representado por Ali Cello, dono das terras, não permite que os “pistoleiros” abandonem seu passado violento – representado por Hidir e seus comparsas. A única alternativa é o confronto mortal entre os dois lados. A polícia assiste a tudo com impotência, enquanto a esperança reside na jovem professora da escola e em Yusuf, filho de Hidir, que acompanha a trágica luta de seu herói. 

A lei da fronteira (Hudutlarin kanunu, Turquia, 1966), de Lutfi Omer Akad.Com Yilmaz Guney (Hidir), Ayse Ogretmen (Pervin Par), Erol Tas (Ali Cello), Tuncer Necmioglu (Aziz), Muharrem Gurses (Duran Aga), Aydemir Akbas (Abuzer). 

007 – Sem tempo para morrer

A despedida de Daniel Craig do agente secreto é emocionante. O final deixa no ar a certeza de que nossos heróis são assim, como nós. Essa foi, inclusive, a base da renovação da franquia 007 desde Casino Royale (2006): Bond sofre de diversos males físicos e sentimentais, um herói mais próximo, afeito aos conflitos internos e externos (lembrem-se das cenas de tortuna)  que acometem as pessoas comuns. 

No time to die começa com uma impactante sequência em uma casa de campo no inverno gélido, quando são apresentados Madeleine, ainda criança, e Safin, o vilão. Corta anos depois para cenas idílicas de Bond curtindo suas férias em Materna, sul da Itália,  junto com Madeleine, sua namorada. São cenas idílicas, sensuais, nas belas praias, nas vielas históricas, nos quartos de hotéis, assim como em todo filme de 007. Um atentado contra a vida de James Bond dá fim ao romance, instaurando a dúvida entre o casal. 

São dois prólogos recheados de cenas de romance, sexo, ação, perseguições de carros, mortes assustadoras. Cinco anos depois, Bond está aposentado, seu codinome 007 é usado agora por uma agente secreta. No entanto, Lyutsifer Safin, o vilão da primeira sequência, ressurge e se apodera de uma poderosa arma química que pode dar fim à humanidade. 

É a senha para a volta de Bond à ação, em uma narrativa repleta de reviravoltas, sequências mirabolantes de suspense e ação, um amor do passado que volta com surpresas, coadjuvantes que se destacam em momentos decisivos da trama, mulheres empoderadas em ações espetaculares quando resolvem sozinhas os problemas (diante de um Bond atônito); enfim, o velho e o novo 007 oferecem ao espectador tudo que ele tem direito quando se senta diante de um Bond, James Bond. O final apoteótico deixa uma dúvida que se dissipa rapidamente: James Bond will return!?.

007 – Sem tempo para morrer (No time to die, EUA, 2021), de Cary Joji Fukunaga. Com Daniel Craig (James Bond), Ana de Armas (Paloma), Rami Malek (Lyutsifer Safin), Léa Seydoux (Madeleine). Lashana Lynch (Nomi), Ralph Fiennes (M), Ben Whishaw (Q), Naomie Harris (Moneypenny).