
O filme é uma ousada adaptação do romance de Denis Diderot, acompanhando a jornada de Suzanne, jovem que é forçada pelos pais a fazer os votos de freira e viver enclausurada no convento. Alguns textos, inseridos no início da narrativa, contextualizam a vida monástica no século XVIII. As famílias aristocráticas pagavam para confinar as filhas nos conventos até o casamento, as que não conseguiam o matrimônio viviam enclausuradas o resto da vida. As Madres Superioras eram indicadas devido ao título de nobreza, ou seja, as que pagavam mais eram as responsáveis pelas outras religiosas. Diderot baseou seu romance em pessoas reais, a protagonista Suzanne é inspirada na vida de Marguerite Delamare, cujo pai a enviou para um convento quando tinha três anos. Na vida adulta, ela apelou, tentando reverter seu votos, mas perdeu legalmente e viveu na clausura até a morte.
Jacques Rivette transforma esta história em uma triste e cruel jornada. Suzanne, que luta incessantemente para sair do convento, sofre torturas impingidas pela Madre Superiora e pelas outras freiras, que a acusam de estar possuída pelo demônio. Suzanne perde o julgamento e é obrigada a seguir com sua vida de freira, mas muda de convento, onde passa a sofrer com as investidas da Madre Superiora, que nutre por ela uma paixão avassaladora.
O que fica da história é a crueldade, o sadismo praticado atrás dos muros dos conventos, onde a lei praticamente não tinha jurisdição. A sociedade paternalista também soltava suas garras sádicas sobre as mulheres para continuar vivendo na repulsiva farsa da nobreza. Jacques Rivette não poupa ninguém em suas críticas, nem mesmo Suzanne, a tragédia a acompanha dia-a-dia em sua luta pela liberdade.
A religiosa (La religieuse, França, 1966), de Jacques Rivette. Com Anna Karina (Suzanne), Liselotte Pulver (Madame de Chelles), Micheline Presle (Madame de Moni), Francisco Rabal (Dom Morel).