
As filmagens de Apocalypse Now (1979) foram uma das mais conturbadas da história do cinema. Francis Ford Coppola, equipe e família, se embrenharam durante 238 dias nas selvas Filipinas, convivendo com tempestades, insetos em profusão, doenças que afetavam a equipe (o protagonista Martin Sheen, então com 36 anos, sofreu um ataque cardíaco sério e ficou afastado cinco semanas). Coppola conviveu com tudo isso, chegando a níveis insuportáveis de exaustão que resultaram em discussões homéricas com membros da equipe, além de incontáveis sinais de que desistiria do projeto. Eleanor Coppola, esposa do cineasta, registrou dia-a-dia o caos, através de filmagens, anotações em seu diário e gravações de suas conversas com Coppola.
“O Apocalipse de um cineasta” é amplamente considerado como um dos melhores filmes no subgênero vagamente conhecido como documentários de ‘making-of’, em grande parte graças ao acesso de seus criadores a materiais de fontes primárias que, normalmente, seriam extremamente difíceis de se obter. Entre as coisas a destacar (a descartar, do ponto de vista dos envolvidos): interrupções no local de filmagem provocadas pelas forças armadas filipinas; confissões cada vez mais pessimistas de insegurança e desânimo feitas pelo diretor à esposa; o ator Martin Sheen sofrendo um ataque cardíaco durante as filmagens, além de discussões acaloradas entre Coppola e dois dos principais membros do elenco, Dennis Hopper (aparentemente maconhado o tempo todo e incapaz de lembrar suas falas) e Marlon Brando (que apareceu no local das filmagens gordo e sem ter lido o romance de Conrad). Acrescente-se a isso a demissão do ator principal originalmente contratado, Harvey Keitel; um enorme tufão que destruiu diversos cenários; a eterna insatisfação de Coppola com a conclusão de seu filme. Considerando, ainda, o fato de que um projeto originalmente prevista para ter 16 semanas de filmagem acabou levando mais de três anos para ser finalizado, somos obrigados a concluir que os criadores de O apocalipse de um cineasta sabiam que tinham nas mãos um mina de ouro em forma de ‘making-of’.”
Francis Ford Coppola – O apocalipse de um cineasta (Hearts of darkness: a filmmaker ‘s apocalypse, EUA, 1991), de Fax Bahr e Eleanor Coppola. Referência: 1001 filmes para ver antes de morrer. Steven Jay Schneider. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.