A garota e a aranha

O filme dos irmãos Zurcher faz parte da tradição do cinema intimista europeu, regido pela simplicidade técnica, mas com intensa força poética. Tudo se passa em uma casa, onde os moradores estão se preparando para uma mudança. Enquanto empacotam objetos, carregam caixas, tentam organizar o caos tradicional desses momentos, cada um se despede à sua maneira um do outro, do lugar, das lembranças. 

Lisa transita pelos ambientes em silêncio quase profundo, tocando em objetos, em uma aranha, gestos sutis de quem deixa uma importante fase da vida para trás. O casal Mara e Markus se movimentam apressados pelos ambientes, pintam paredes. Astrid, a mãe, cuida com carinho de tecidos e comanda os funcionários encarregados da mudança, dos consertos. A narrativa revela, através destes gestos simples e cotidianos das personagens, os mistérios insondáveis da alma quando nos despedimos de pessoas e coisas queridas.  

A garota e a aranha (Das mädchen und die spinne, Suiça, 2021), de Ramon Zurcher e Silvan Zurcher.  Com Henriette Confurius (Mara), Liliane Amuat (Lisa), Ursina Lardi (Astrid), Ivan Georgiev (Markus). 

A comuna

Erik, professor de arquitetura, é casado há 15 anos com Anna, uma influente apresentadora da televisão norueguesa. Erik recebe uma enorme casa de herança e para conseguir manter os custos da residência, o casal convida vários amigos para morarem juntos, formando uma comunidade. As decisões cotidianas são resolvidas em reuniões à mesa, lideradas por Ole. A harmonia da comunidade ameaça ser rompida quando Erik se apaixona por Emma, uma aluna. Após uma separação amigável, Erik leva Emma para morar na comunidade. 

Thomas Vinterberg (Festa de família), ambienta essa comunidade conflituosa, mas ao mesmo tempo regida pelas leis da amizade, nos anos 70. Os adultos às vezes explodem em crises histéricas, outras vezes se regalam à vinho e olhares cúmplices na mesa. A liberdade sexual está expressa no comportamento de Erik e Anna, no entanto, ela se mostra passo a passo despreparada para essa maturidade compreensiva. 

O contraponto dos adultos é o menino Vilads – ele tem problemas cardíacos e diz a todo mundo que conhece: vou morrer quando fizer nove anos – e a adolescente Freja, filha do casal, que assiste a tudo entre o deslumbramento e a decepção. A grande e tocante sequência do filme é quando Vilads se deita nos ombros da mãe olhando com o olhar terno para Freja, que acaba de apresentar seu namorado à comunidade. 

A comuna (Kollektivet, Dinamarca, 2016), de Thomas Vinterberg. Com Trine Dyrholm (Anna), Ulrich Thomsen (Erik), Helene Reingaard Neumann (Emma), Martha Sofie Wallstrom Hansen (Freja), Lars Ranthe (Ole), Fares Fares (Allon), Magnus Millang (Steffen), Anne Gry Henningsen (Ditte), Julie Agnete Yang (Mona), Sebastian Gronnegaard Milbrat (Vilads).