Considerações sobre o gênero, sobre o cinema

A própria Ana Maria Bahiana diz que o livro nasceu do encontro com pessoas de todo o país, frequentadores de seu curso Como ver um filme. A intenção das palestras “é formar plateias informadas, críticas, mais bem-habilitadas a compreender o que veem e a escolher do que gostam.”

Neste sentido, o livro funciona como uma espécie de manual, abordando em pequenos capítulos, muitas vezes em tópicos, o processo de construção de um filme. A autora desenvolve fases como a apresentação da ideia a um produtor, o desenvolvimento do roteiro, escolha do diretor, questões estéticas, pré-produção, filmagem e pós-produção.

No entanto, o melhor do livro são as considerações de Ana Maria Bahiana a respeito do estilo, do gênero cinematográfico. Explorando sua vasta cultura cinematográfica, principalmente do cinema americano, a jornalista passa pelos principais gêneros e sub-gêneros, destacando as características do estilo e exemplificando com uma série  de películas.

“Cinema é uma arte viva – tudo nele tem um claro ciclo natural – e, como ele, seus gêneros. Temas e estilos que rapidamente encontram eco junto ao público logo se tornam ‘gêneros’ menores no espaço aproximado de uma década. Seus elementos principais passam a ser copiados, reinterpretados, respondidos por outras visões, outros realizadores. A certa altura da repetição, o gênero se cristaliza, torna-se plenamente um clichê, pronto para ser criticado, destroçado, ironizado, satirizado e, eventualmente, esquecido. Mas nada permanece morto durante muito tempo neste ecossistema – tudo o que foi clássico vinte anos atrás pode ser novidade de novo, resgatado e reinterpretado por um novo olhar.”

Como manual, o livro apresenta passo a passo questões importantes para conhecer e entender os processos da construção de um filme. Como referência, lista uma série de filmes e suas principais características de técnica e estilo.

Como ver um filme. Ana Maria Bahiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.

A história de um final

Em 1942, a Segunda Guerra Mundial estava em momentos decisivos. A entrada dos Estados Unidos na guerra representou o ponto de virada, um ano antes. Soldados e mais soldados americanos desembarcavam na Europa e na Ásia. Hollywood também fazia a sua parte, produtores, diretores e atores participavam do esforço de guerra, produzindo filmes sobre o conflito, na tentativa de mostrar para o mundo a heróica luta dos aliados contra o nazismo. Neste contexto, foi lançado o filme que se tornou um dos maiores clássicos de todos os tempos: Casablanca (EUA, 1942), de Michael Curtiz.

Casablanca é uma mistura de thriller de espionagem e romance. Rick Blaine (Humphrey Bogart) é dono do Rick ‘s Bar, em Casablanca, no Marrocos, colônia francesa na África. O bar é freqüentado por oficiais locais que seguem ordens do comando nazista (o filme se passa na época da ocupação da França pelos alemães) e por uma legião de refugiados de guerra. Certa noite, Ilsa Lund (Ingrid Bergman) e seu marido Victor Laszlo (Paul Henreid), importante líder da resistência francesa, entram no bar. Rick e Ilsa foram amantes em Paris, mas o romance terminou no momento da ocupação da França pela Alemanha. O encontro dos dois provoca lembranças, sentimentos e oferece ao público cenas e frases típicas do melodrama. Rick, bêbado, murmura para o copo, “De todos os bares do mundo, ela tinha que entrar no meu”Rick e Ilsa estão num bar, em Paris, quando os alemães invadem a cidade,  Ilsa desabafa, “O mundo desmorona e nós nos apaixonamos.”. Ela ouve estrondos ao longe e pergunta, abrigada no peito de Rick, “Foram tiros de canhão ou meu coração batendo?”.

Momentos que exemplificam o tom melodramático que fazia sucesso no cinema no início dos anos 40. Mas, ao contrário de diversos outros filmes do gênero, Casablanca nunca envelhece. Passa de geração para geração sempre com a aura e o glamour dos clássicos. É daqueles filmes em que tudo dá certo: uma história envolvente, uma música arrebatadora, o carisma do par de protagonistas centrais, a escolha acertada de diversos atores secundários, a direção precisa de Michael Curtiz e, principalmente, o final que deixou milhões de espectadores com o coração na mão. O filme representa a fase áurea de Hollywood que, mesmo em meio à tragédia da Segunda Guerra Mundial, conseguia produzir filmes que levavam esperança e humanidade ao espectador. O mundo desmoronava, mas era possível se apaixonar. 

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As duas mortes de Alex Forrest

Robert Altman cita no filme O jogador (The player, EUA, 1992) um caso famoso do cinema da década de 80: o novo final de Atração fatal, gravado após uma exibição de pré-teste. Em O jogador, produtores de cinema estão conversando sobre o final do filme.

“Quem escreveu o novo final de Atração fatal? O público”

“Há milhões de escritores e o público o escreveu.”

“Não se pode prever como seria com o final original. Mas sabemos que a bilheteria mundial foi de US$ 300 milhões com o final escolhido no teste.”

Atração fatal (Fatal attraction, EUA, 1987), de Adrian Lyne, aborda conseqüências da infidelidade. O advogado Dan Gallagher (Michael Douglas) é casado. Enquanto a mulher e a filha passam um final de semana fora, ele tem um caso com Alex Forrest (Glenn Close). O romance de fim de semana se transforma numa obsessão sem limites. Alex Forrest se revela psicótica e, quando descobre que o amante ocasional não quer mais nada com ela, passa a perseguir Dan e sua família.

Em uma sequência famosa, Alex mata o coelho da filha do casal, colocando-o para “ferver” na panela na cozinha da casa. Depois, seqüestra a garota, passando uma tarde com ela no parque de diversões. A mãe, desesperada, sai de carro em busca da filha e acaba sofrendo acidente de trânsito. Alex devolve a filha, mas Dan, furioso, vai até a casa da ex-amante. Os dois brigam, Dan começa a estrangular Alex, mas desiste a tempo. Alex pega uma faca de cozinha e investe novamente contra Dan, tentando matá-lo. Dan consegue dominá-la, tira a faca de suas mãos e vai embora.

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Cinema em poucas palavras

Alerto os alunos no primeiro dia de aula da minha disciplina História do Cinema Mundial: a história do cinema merece um curso de graduação inteiro, teremos apenas um recorte, os principais movimentos, diretores, filmes…. É a mesma proposta do livro A história do cinema para quem tem pressa, do crítico e professor Celso Sabadin – autor do ótimo Vocês ainda não ouviram nada, a barulhenta história do cinema mudo.

O autor adverte os leitores: “Como o próprio nome já diz, A história do Cinema para Quem Tem Pressa propõe uma abordagem histórica, rápida e objetiva sobre o tema. Usando uma linguagem cinematográfica, trata-se mais de uma visão panorâmica, um travelling, do que um estudo em close.”

Os capítulos do livro seguem a linha cronológica, começando pela pré-história das imagens em movimento e os pioneiros. Na primeira parte, destaco o capítulo sobre o impressionismo francês, Sabadin dedica análise mais apurada sobre o movimento marcado pelas obras de diretores como Abel Gance, Louis Delluc e Jean Epstein.

A partir do nascimento do cinema sonoro, o livro versa sobre os principais movimentos: neo-realismo italiano, nouvelle-vague, nova hollywood, passando ainda pela ascensão e decadência do sistema de estúdios americano. O cinema nacional é contemplado com panorama histórico sobre o cinema novo e um subtítulo no capítulo final sobre a retomada do cinema brasileiro.

Livro de leitura rápida, com listagem de importantes filmografias, abre perspectivas para futuras pesquisas, imersão em um ou outro movimento de preferência para a leitura de obras mais densas. Como sugestão, ainda o melhor livro sobre história do cinema, um clássico: História do cinema mundial, de Georges Sadoul, publicado nos anos 60, três volumes com a mais completa retrospectiva da sétima arte até aquele momento.

A história do cinema para quem tem pressa. Dos irmãos Lumière ao século 21 em 200 páginas! Celso Sabadin. Rio de Janeiro: Valentina, 2018.

O filme que nunca termina

Blade runner – O caçador de androides (Blade runner, EUA, 1982), de Ridley Scott, foi praticamente ignorado pela crítica na estreia. A maioria dos especialistas elogiou apenas seus aspectos plásticos. Ridley Scott levou para o cinema a experiência adquirida como diretor de publicidade, aliando a linguagem ágil da TV com um requintado apuro fotográfico e técnico. Indiferente à crítica, o público colocou o filme no status de cult movie, criando fãs-clubes, transformando-o em objeto de pesquisas acadêmicas e elaborando infindáveis discussões acerca dos vários finais.

Nos anos seguintes à estreia, o filme foi relançado com substanciais modificações. A versão em VHS trouxe cenas adicionais. Em 1992, comemorando dez anos de lançamento do filme, Ridley Scott remontou o filme, utilizando cenas excluídas e apresentando uma versão alternativa do final: Blade runner: versão do diretor (Blade runner: the director’s cut). 

Baseado no romance Do androids dream of electric sheep? (1969), de Philip K. Dick, o cenário do filme é a Los Angeles de 2019. Uma chuva interminável e ácida cai sobre a cidade, iluminada por néon e faróis de veículos que cruzam os céus, passando por gigantescos painéis publicitários. Multidões caminham pelas ruas, se espremem em bares, restaurantes e nunca veem o sol – a cidade está num estágio de total degradação ambiental. A população, formada por etnias, raças e culturas variadas, fala um dialeto estranho que oscila entre o inglês, chinês, espanhol e outras línguas. Em meio a este caos, desembarcam quatro replicantes, androides idênticos aos humanos, quase impossíveis de serem reconhecidos. Foram criados para servir ao homem em perigosas missões espaciais, mas se rebelaram e fugiram para a Terra. Deckard (Harrison Ford), um blade runner, é encarregado de matar os quatro replicantes. Em sua busca, ele encontra uma quinta replicante, Rachael (Sean Young), por quem se apaixona. No entanto, suas ordens são claras: todos os replicantes devem ser exterminados. 

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Um incerto Hitchcock

Como é hábito em HollywoodTopázio (Topaz, Inglaterra, 1969), de Alfred Hitchcock, foi apresentado numa sessão para pré-teste. Os espectadores têm fichas distribuídas na entrada do cinema. No final, devem anotar os seus comentários e devolvê-las. A partir das avaliações, os produtores decidem questões importantes envolvendo cenas e sequências do filme. 

A tela ilumina-se, aparecem cenas de desfile do exército em Moscou com contingentes e armamentos pesados. No final dos créditos, cena aérea do desfile e multidão. Letreiro informa: “no meio desta multidão há um funcionário do governo russo que discorda da mostra de força do seu governo e do que ele ameaça. Sua consciência em breve o forçará a tentar fugir com a família”. 

Através dos créditos, a plateia percebe que é um Hitchcock diferente: não há nenhum astro ou estrela conhecidos, como nos outros filmes do mestre. Sem Ingrid Bergman, Cary Grant, James Stewart, Grace Kelly, seus habituais colaboradores, Hitchcock trabalhou, em Topázio, com um elenco competente, mas pouco conhecido: Frederick Stafford, Philippe Noiret, Michel Piccoli, Dany Robin, Claude Jade, Roscoe Lee Browne, John Vernon e John Forsythe. 

Topázio é uma rara incursão claramente política de Hitchcock. O oficial russo citado no começo do filme conta com a ajuda de espiões americanos e foge para os Estados Unidos. Em troca de asilo político, ele revela informações sigilosas sobre a URSS, particularmente, sobre as relações com Cuba. Para checar a veracidade das informações, os americanos recorrem ao espião francês André Devereaux (Frederick Stafford). Ele controla uma rede de espionagem no país de Fidel Castro, contando com cubanos como agentes. A responsável pela rede é Juanita de Córdoba (Karin Dor), amante de André. Juanita é também amante de Rico Parra, homem forte de Castro. 

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Uma aula de cinema

O livro foi publicado na década de 80 se tornando, de imediato, clássico na literatura de roteiros para cinema. A edição do livro surgiu a partir da proposta da criação de um curso de roteiro. Na apresentação da edição brasileira, o autor Michel Chion adverte: “Muitos dizem que roteiro não se ensina, e têm razão… em princípio. Os bons roteiros não surgem por geração espontânea: em geral, nascem de certo domínio do ofício, ou da intuição de certas leis, que o roteirista decide respeitar ou ignorar. Esse ofício, essa intuição, adquirem-se em grande parte com a experiência e um pouco através do estudo.”

Visando contribuir para esse estudo, Michel Chion divide o seu livro em três partes. Na primeira, analisa roteiros de obras-primas do cinema, como Uma aventura na MartinicaO testamento do Doutor Mabuse Sansho Dayu. A seguir, segue o padrão dos manuais de roteiros, descrevendo as técnicas: criação de personagens, procedimentos de narração e um interessante capítulo sobre “os erros de roteiro (para melhor cometê-los)”. A terceira parte apresenta a estrutura do roteiro: ideia, sinopse, tratamento, continuidade dialogada, decupagem técnica e “story-board”.

Livro primoroso, Michel Chion vai além de descrição de técnicas de roteirização. As análises do autor enriquecem, orientando o trabalho de roteiristas no uso da linguagem de cinema, na construção de cenários, na composição de personagem, na busca de soluções dramáticas, na inserção de pistas para o espectador, nas funções do diálogo, na construção cênica e dramática usando acessórios, no uso dos clichês, no domínio do tempo narrativo.

A advertência de Michel Chion na apresentação é válida, talvez roteiro não se ensine, no entanto, seu livro é verdadeira aula de cinema.

O roteiro de cinema. Michel Chion. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

Escritores diante da tela muda

O espectador noturno. Os escritores e o cinema, livro organizado por Jérôme Prieur, reúne textos de escritores sobre os primórdios do cinema. Não tratam dos filmes especificamente: são registros das impressões, sensações, sentimentos dentro da sala escura, diante dessa arte para eles nova e fascinante.

Fascínio que, em alguns casos, beira a confusão entre ficção e realidade. Em A linha de fogo, o escritor Fernand Fleurel conta a história da primeira sessão de cinema assistida por Vitorine, empregada da família. Era um filme mudo sobre a guerra e, em determinada sequência, Vitorine enxerga seu filho em um soldado no campo de batalha. O jovem estava verdadeiramente combatendo na guerra mundial e quando o ator foi atingido por disparos a empregada entrega-se tragicamente no cinema, acreditando ver a morte do filho.

Narrativas que se imbricam. O exagero desta história ilustra bem a tese apresentada por Jacques Audiberti em um texto mais didático intitulado A parede de fundo. “Entre as razões estéticas ou intelectuais propostas ao olhar humano, nenhuma exige a presença, a colaboração do espectador como o cinema.” Para o autor, o fascínio do cinema reside na capacidade de praticar “pelas vias das falhas, dos defeitos, muito mais do que pela virtude de uma vontade explícita, seus dois jogos fundamentais: o movimento e o fantástico.”

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Os produtores contra Griffith, Stroheim e Orson Welles

Estados Unidos, 1925. O público enche a sala de exibição para ver mais um filme. É uma pré-estreia, na plateia, atores, atrizes, diretores, produtores, boa parte da comunidade cinematográfica de Hollywood. Abrem-se as cortinas, começa o filme A viúva alegre (The merry widow, EUA, 1925), do diretor austríaco, radicado nos EUA, Erich Von Stroheim. Tudo corre normalmente até que, no meio da exibição, Stroheim se levanta entre os espectadores e grita: “Minha única desculpa por ter dirigido semelhante lixo é que tenho uma mulher e filhos para sustentar.”Segundo George Sadoul, histórias como a de Erich Von Stroheim fazem parte do imaginário cinematográfico de Hollywood. O diretor austríaco chegou aos Estados Unidos em 1906 e dirigiu seu primeiro filme em 1918. Detalhista durante as filmagens, ele geralmente estourava os prazos e o orçamento de seus filmes, motivando interferências dos produtores. Seus problemas agravaram-se em 1923 quando dirigiu Ouro e maldição (Greed, EUA) para a Metro-Goldwyn-Mayer.

Entre 1912 e 1927, foram rodados nos Estados Unidos cerca de 9.000 longas-metragens. É uma das fases mais produtivas do cinema americano, época em que surgem grandes produtoras, definindo um padrão industrial para a realização de filmes. O processo em escala industrial consolidou o poder dos produtores de cinema. Nessa época, o lendário Irving G. Thalberg (1899-1936), principal executivo da Metro-Goldwyn-Mayer, escolhia roteiros e argumentos, supervisionava os detalhes da produção, montava filmes à revelia dos diretores.

Em 1923, Stroheim estava trabalhando sob a supervisão de Thalberg. As filmagens de Ouro e maldição demoraram nove meses e o filme foi montado com a duração de quatro horas e meia. Stroheim queria exibi-lo em duas partes. Thalberg exigiu que o roteirista Jules Mathis reduzisse o filme para duas horas de projeção. Stroheim concordou e colaborou nos cortes, mas depois se recusou a reconhecer como sendo seu o filme, alegando que ele fora completamente mutilado.

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Cineastas mexicanos rompem as fronteiras

Tela em fade, sobreposto ao título Amores perros, o espectador ouve sons de carros em movimento e respiração ofegante. Abre imagem com faixa contínua da rua passando velozmente. Corta para visão lateral de dentro do carro: imagens urbanas velozes. Corta para cena do motorista: Octavio (Gael García Bernal) dirige em alta velocidade pelas ruas da Cidade do México. É perseguido por uma caminhonete. No banco traseiro do carro, Cofi, seu cão rotweiller, agoniza, amparado pelo melhor amigo de Octávio. A sequência segue com freadas bruscas e ultrapassagens perigosas nas movimentadas ruas da cidade. A câmera é frenética e instável, alternando cenas da rua, interior do carro, mãos no volante, pé no freio e no acelerador, semáforos, cruzamentos, pneus derrapando, automóveis em quase colisões laterais, closes no retrovisor, perseguidor tentando atirar pela janela. 

Cortes rápidos, pontuados por som ambiente, anunciam para o espectador um filme de ação, típica produção hollywoodiana marcada por uma espetacular cena de perseguição de carros ao estilo da trilogia Bourne. Mas é um filme mexicano, Amores brutos (Amores perros, México, 2000), estreia do diretor Alejandro González Inárritu. 

A partir da impressionante colisão do carro dirigido por Octávio em um cruzamento, a história recua, determinando a marca do diretor que vai se estender em outros filmes: montagem alternando histórias paralelas, indo do presente ao passado e vice-versa sem respeitar a ordem linear dos acontecimentos; personagens marginais que se cruzam ao acaso com típicos representantes da classe média em situações trágicas provocadas por algum tipo de acidente. O acidente refaz destinos, pontos de vista diferentes do mesmo fato provocam novas escolhas. Tragédias que aproximam os filmes de Inárritu do cinema melodramático, porém com fortes confrontações sociais: os dramas vividos pelos personagens, quase sempre em situações limítrofes de sofrimento e morte, ganham contornos da realidade urbana dos países do terceiro mundo. Tudo mascarado pela estética da violência, bem ao estilo Quentin Tarantino. “(…) Hoje ninguém vai ao cinema ver Amores brutos para saber como anda a situação no México, e sim para encontrar um certo ‘estilo’, uma estética particular, uma maneira plástica e cinética de olhar e sentir o mundo.” (FRANÇA, Andréa, in. MASCARELLO, 2006, p. 396). 

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