
O filme abre com uma criança sentada no banco traseiro do carro, imitando o som do motor. O motorista, seu pai, mostra-se irritado e a repreende severamente. A criança, nervosa, solta-se do cinto de segurança, fazendo com que seu pai se distraia do volante, provocando um acidente. Após passar por uma delicada cirurgia no cérebro, a criança sai do hospital e, a primeira coisa que faz, é correr para o carro e encostar a face no vidro com os braços abertos, simulando um grande e terno abraço no veículo.
Corta para Alexia, agora uma jovem, protagonizando uma dança erótica em cima do capô de um carro esporte. A plateia masculina vai ao delírio, Alexia é uma celebridade neste meio. Sua única motivação são os carros, com quem desenvolve uma relação até mesmo erótica: atenção para a cena de sexo de Alexia com um carro, que resulta em uma inacreditável gravidez.
Logo no início do filme, Alexia revela uma compulsão para a violência, praticando um série de assassinatos. Violência e erotismo se misturam de forma agressiva, quase repulsiva, neste instigante thriller da diretoria Julia Ducournau, vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Quando o bombeiro Vincent entra em cena, a reviravolta no roteiro encaminha o filme para uma espécie de fraternidade familiar, mas mantendo o tom ousado e violento. Titane surpreende pela narrativa, pela estética, pelas relações entre personagens distópicos, cada um à sua maneira.
Titane (França, 2021), de Julia Ducournau. Com Vincent Lindon (Vincent), Agathe Rousselle (Alexia), Garance Marillier (Justine), Lais Salameh (Rayane).