O acaso das ruas no processo criativo

Trabalhei como redator publicitário durante mais de 20 anos em agências de Belo Horizonte. Como todo profissional da área, vez por outra eu ficava olhando para o papel em branco na Olivetti, sem estímulo criativo para teclar. A tecnologia evoluiu, novamente, vez por outra, eu ficava olhando para a tela em branco do computador, sem estímulo criativo para teclar.  

Em momentos assim, adquiri um hábito que mudou minha relação com o processo criativo. Levantava-me da cadeira, saía da agência a caminhar pela cidade – ruas do centro, Savassi, shoppings e um lugar especial: o mercado central. Se o tempo permitia, assistia a um filme nos velhos cinemas de rua. Claro, nem sempre era possível até mesmo sair da agência, a pressão do prazo de entrega determinava que a única saída era começar a teclar. Diante do acaso das ruas, ideias surgem.  

O preâmbulo do texto foi motivado pela leitura do livro O guia geek de cinema, de Ryan Lambie. No capítulo sobre O planeta dos macacos (1968), o autor, após bela análise do filme e de seus derivados, relata que nenhum desses filmes teria acontecido se o escritor do livro não tivesse saído a passear e se deparasse com uma jaula no jardim zoológico. 

“É notável que toda a franquia de Planeta dos Macacos deva sua existência a um único momento. Muito tempo antes que o diretor Franklin J. Schaffner, seu elenco e equipe técnica partissem para filmar numa locação do Arizona, Pierre Boulle visitou um zoológico na França. Olhando com curiosidade para um cercado, observou as expressões estranhamente humanas de um macaco e se perguntou o que poderia acontecer se suas posições fossem invertidas: Boulle no cercado e o macaco do lado de fora, encarando-o. Essa foi a semente que levou à criação de O Planeta dos Macacos, uma história que explora o lado sombrio da natureza humana de uma perspectiva divertidamente distorcida. Da mesma forma, os filmes da franquia Planeta dos Macacos nos oferecem um espelho de nossa própria sociedade – e do feio reflexo que ela pode ter.” 

Referência: O guia geek de cinema. A história por trás de 30 filmes de ficção científica que revolucionaram o gênero. Ryan Lambie. São Paulo: Seoman, 2019

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