Perdas de guerra

Orgulho e Paixão (The Pride and the Passion, EUA, 1957), de Stanley Kramer. Em 1810, as tropas francesas de Napoleão invadem a Espanha. Grupo de rebeldes, liderados por Miguel (Frank Sinatra), atravessa 100 quilômetros do país transportando um canhão gigante para tomar Ávila, cidade ocupada pelos franceses e protegida por muros intransponíveis. Em Ávila, oficial francês tenta obter informações dos moradores sobre o paradeiro de Miguel. O oficial está à frente de civis. Diante da recusa dos moradores em colaborar, ele ameaça:

– Muito bem, um exemplo deve ser estabelecido. Eu vou começar enforcando 10 de vocês. Depois de um dia, enforcarei mais 10 e mais 10. Se necessário, as mulheres e as crianças de Ávila. Até que uma língua se solte e me digam onde está o canhão. – os moradores continuam silenciosos, um espanhol cuspe no chão.

– Execute a ordem. – determina o oficial. Dez espanhóis são escolhidos para o primeiro enforcamento.

Cenas como essas são comuns em situações de guerra. O cinema retratou várias delas. Em Dr. Jivago (EUA, 1965), de David Lean, tropas do exército vermelho queimam povoados do interior da Rússia e fuzilam moradores, acusando-os de colaborar com o exército branco. Militares costumam chamar esses assassinatos de perdas colaterais na guerra.

Durante a segunda guerra mundial, histórias desse tipo se repetiram. Na Iugoslávia ocupada pelos nazistas, o general Mihailovic comandava a resistência.

“Como líder guerrilheiro, Mihailovic sofreu com o fato de muitos de seus seguidores serem pessoas conhecidas, com parentes e amigos na Sérvia, com propriedades e ligações reconhecíveis em outros locais. Os alemães adotaram uma política de chantagem homicida. Retaliavam as atividades guerrilheiras através do fuzilamento de lotes de quatrocentas ou quinhentas pessoas escolhidas a dedo em Belgrado.” – Winston Churchill.

Durante o levante de Varsóvia, em 1944, os alemães fuzilavam civis nas ruas, tentando intimidar os rebeldes. Do livro de Churchill, outro relato aterrorizante, feito por uma testemunha ocular através de telegrama.

“Os batalhões de tanques alemães, na noite passada (11 de agosto), fizeram esforços decisivos para libertar algumas de suas fortalezas na cidade. Mas essa não é uma tarefa simples, já que em cada esquina ergueram-se enormes barricadas, em sua maioria construídas de pedaços de concreto arrancados do calçamento das ruas especialmente para esse fim. Na maioria dos casos, as tentativas fracassaram, de modo que as guarnições dos tanques deram vazão a seu desapontamento ateando fogo a diversas casas e bombardeando outras à distância. Em muitos casos, também atearam fogo aos mortos, cujos corpos recobrem as ruas em muitos locais. (….) Quando os alemães usaram tanques para levar suprimentos a uma de suas fortalezas, obrigaram quinhentas mulheres e crianças a caminhar na sua frente, para impedir que os soldados (poloneses) lhes dessem combate. Muitas delas foram mortas e feridas. Relatos sobre o mesmo tipo de ação vieram de muitas outras partes da cidade.”

Referência: Memórias da Segunda Guerra Mundial. Winston S. Churchill. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995

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