
Quando terminou as filmagens de Soberba (The Magnificent Amberson, EUA, 1942), o diretor Orson Welles embarcou para o Brasil a convite do presidente Roosevelt na tentativa de estreitar as relações dos EUA com a América do Sul, considerada posição estratégica durante a Segunda Guerra Mundial. Entusiasmado com a ideia e com a possibilidade de fazer um filme sobre o carnaval brasileiro, Welles viajou deixando a finalização de Soberba a cargo do montador, na esperança de poder controlar o processo à distância.
O filme foi montado e apresentado numa sessão de pré-estréia. Os produtores não gostaram da recepção do público e exigiram nova montagem. Aconteceu então um dos maiores crimes da história do cinema. Foram cortados 45 minutos do original, a famosa seqüência do baile, gravada por Welles durante 10 minutos sem cortes, em um único rolo, foi cortada e remontada, os atores foram chamados para regravar seqüências inteiras que não constavam do roteiro original e o mais impressionante, foi rodado novo final. Tudo isso sem a presença e autorização de Orson Welles. O nome do montador a quem Welles confiara a finalização do trabalho e que depois cortou e remontou o filme: Robert Wise.
Esta história é uma mancha na carreira de Robert Wise, pois ele se tornou um dos grandes realizadores do cinema americano. Em 1953, já como diretor, Wise dirigiu O dia em que a terra parou (The day the earth stood still, EUA, 1953), clássico da ficção científica. Nave alienígena pousa na terra e seu tripulante, Klaatu, exige que os governantes parem com a corrida armamentista, cessem a construção de foguetes nucleares, que se constituem numa ameaça à paz universal. Do contrário, todos os terráqueos serão exterminados. Para demonstrar seu poder, ele faz com que tudo na terra pare por alguns minutos. Em tempos de guerra fria, um apelo à paz entre os homens.
Wise foi responsável pela primeira adaptação cinematográfica da série Star trek. Jornada nas estrelas, o filme (Star trek, the movie, EUA, 1979) foi o último filme dirigido por Robert Wise. A tripulação da Enterprise se reúne para estudar o misterioso aparecimento de uma nuvem que se encaminha perigosamente para a terra. Considerado por muitos lento e arrastado, o filme prima pela fotografia e pela concepção filosófica da história, bem condizente com o diretor Wise e com os princípios da série original exibida na TV.
Voltando no tempo, é hora de falar da incursão de Robert Wise no universo dos musicais.
O musical Amor, sublime amor (West side story, EUA, 1961), de Robert Wise e Jerome Robbins, transpõe a clássica história de Romeu e Julieta para as ruas de Nova Iorque. Gangue de adolescentes americanos disputa a liderança do território com gangue porto riquenha. Maria (Natalie Wood), descendente de porto riquenhos, e Tony (Richard Beymer), ex-líder da gangue americana se apaixonam.
As belas canções e a coreografia de Jerome Robbins (Robert Wise dirigiu a parte dramática do filme) transformaram Amor, sublime amor num dos musicais de maior sucesso do cinema. As lutas das gangues são coreografadas num estilo moderno e irreverente e as canções de amor de Maria e Tony dão o tom romântico da história. O filme ganhou dez Oscars, incluindo melhor filme e melhor diretor (os dois diretores dividiram o prêmio, fato inédito até hoje na premiação).
Em 1965, Robert Wise dirigiu outro musical que se transformou num dos filmes mais queridos de todos os tempos: A noviça rebelde (The sound of music, EUA). A abertura do filme é clássica, a noviça Maria (Julie Andrews) cantando no alto da montanha, na bela paisagem austríaca. Tudo funciona nessa história. Maria tem dúvidas sobre sua vocação religiosa e vai trabalhar como governanta e babá na casa do capitão austríaco Von Trapp (Christopher Plummer), cuidando de seus sete filhos. Enquanto a Áustria é ocupada pela Alemanha, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, Maria muda a vida dos meninos e do rigoroso e severo capitão Von Trapp. Os meninos se apaixonam pela nova mãe e, claro, o capitão também. Tudo como reza a cartilha de um bom e velho musical.