Roma, cidade aberta

Roma, cidade aberta talvez seja o filme mais contundente sobre a Segunda Guerra Mundial. Foi realizado ainda no calor dos conflitos, quando os americanos libertaram Roma da ocupação nazista. Roberto Rossellini passou parte da ocupação se escondendo, trocando de casa com frequência para evitar ser recrutado para lutar pelo fascismo. O diretor usou suas experiências no filme, os membros da resistência se escondem em casas, trocam de lugar, andam pelos telhados à noite. 

A realização do filme foi complexa, não havia película disponível, a equipe passava dias procurando material com fotógrafos e outros cinegrafistas. Quando conseguiam, filmavam rapidamente nas ruas, em caráter documental. Segundo Aldo Fabrizi, “Geralmente, o negativo acabava antes da cena”, dotando a obra com os famosos cortes abruptos que influenciaram decisivamente o cinema moderno. 

Três sequências entraram para a galeria de antologias do cinema: a morte de Pina, alvejada por um tiro quando corre pela rua atrás do caminhão que leva seu noivo Francesco; a tortura de um membro da resistência, filmada em plano fechado, com realismo aterrador; a execução do padre no final do filme, vista pelos olhos das crianças que jogavam futebol com ele em frente à igreja. 

“Como notaram os críticos, Roma, cidade aberta não é explicitamente um filme neorrealista como parece de início. Além da filmagem documental, reúne elementos que combinariam mais com um melodrama hollywoodiano. Há uma dona de casa corajosa (Anna Magnani) que parece uma Sra. Miniver italiana, meninos de rua heróicos e um padre bem semelhante ao padre Brown. Numa cena assustadora, a jovem atriz que trai a resistência desmaia ao perceber o sofrimento que causou. Ela recebera um casaco de pele como propina para delatar os combatentes. Enquanto está desfalecida, seu casaco é retirado do corpo para ser reutilizado no convencimento de outra traidora. Ninguém sabia filmar uma cena de morte melhor do que Rossellini: o assassinato de Magnani, correndo pelas ruas, a execução do padre diante de várias crianças são encenadas como o máximo de compaição e dramaticidade.”

Roma, cidade aberta (Roma, città aperta, Itália, 1945), de Roberto Rossellini. Com Anna Magnani, Aldo Fabrizi, Marcello Pagliero.

Referência: Tudo sobre cinema. Philip Kemp (editor geral). Rio de Janeiro: Sextante, 2011

Alemanha ano zero

Críticos afirmam que Alemanha, ano zero é o filme essencialmente neorrealista de Roberto Rossellini. A narrativa acompanha o menino Edmund em sua jornada por uma Berlim em ruínas, após a Segunda Guerra Mundial, em busca de trabalho e comida. Seu pai está doente, o irmão desertor não pode sair de casa, cabe à irmã e a Edmund o sustento da família. Um encontro entre Edmund e seu ex-professor, um pedófilo, muda os rumos da história. O professor diz ao menino que os velhos e doentes devem morrer para que os jovens sadios sobrevivam. 

Roberto Rossellini estava produzindo o filme quando foi surpreendido com a morte de seu filho Romano, aos nove anos de idade. A profunda amargura e tristeza na jornada de Edmund é reflexo desse luto. O registro documental da cidade destruída, das pessoas em busca de comida, de trabalho, vivendo apinhadas em pequenos cômodos, expressa também a falta de esperança, de dignidade. O ato de Edmund, influenciado pelas ideias do professor, é praticado de forma fria, como se fosse inevitável. Assim como o gesto final da criança. Realismo, neorrealismo, cinema, não importa, Alemanha ano zero é o documento decisivo daquilo que não podemos esquecer. 

Alemanha, ano zero (Germania anno zero, Itália, 1948), de Roberto Rossellini. Com Edmund Moeschke, Ernst Pittschau, Ingetraud Hinze.

Accattone

Vittorio Accattone nunca trabalhou na vida e se orgulha disso, assim como sua trupe de amigos. Cafetão, Vittorio explora sua namorada Maddalena, forçando-a a se prostituir na periferia de Roma. Quando conhece a jovem e bela Stella, Accattone tenta também colocá-la nas ruas, mas se arrepende e tenta se redimir. 

O primeiro filme de Pasolini é um retrato cruel, mas com uma certa poesia, dos marginalizados de Roma. Accattone tem consciência de sua condição e transita entre a amargura e a diversão pelas ruas da cidade. Accattone é considerado o último filme do movimento neorrealista na Itália, muito mais por ser gravado nas ruas, em locações, com a câmera documental típica do estilo. Diferente de outros filmes do movimento, Pasolini espelha em seu protagonista a sua marca, Vittorio Accattone tenta tirar beleza e poesia da vida cotidiana, mesmo sabendo que seu destino trágico está traçado. A pesquisadora Erika Savernini analisa personagens e o cinema de Pasolini:

“O estado emocional da personagem (geralmente sofredora de alguma perturbação) serve como pretexto ao cineasta para uma exploração, no mais das vezes formalista, da linguagem cinematográfica. Por isso, o que se torna como a subjetiva da personagem é justamente a visão do cineasta, em alguns momentos, libertada da funcionalidade e tendo como objetivo primordial a expressividade. O embate do cineasta entre sua função como narrador (a entidade que vai selecionar as imagens do seu caos significativo e ordená-las) e seu desdobramento enquanto personagem (ser fictício cuja função é apenas a de viver – portanto, agir, sem estabelecer um sentido estrito) reflete-se na dupla natureza da imagem cinematográfica, que também se desdobra entre a objetividade e a subjetividade, entre prosa e poesia, entre comunicação e expressividade. Entretanto, assim como não se pode estabelecer os limites entre um cinema de prosa e um cinema de poesia, essas dicotomias apontadas por Pasolini também não representam pólos que se excluem, elas se cambiam. Pasolini declara-se comprometido com a narratividade cinematográfica, não lhe interessando a expressividade pura, mas uma possibilidade de língua de poesia em que a expressão mescla-se à narrativa.”

Accattone – Desajuste social (Accattone, Itália, 1961), de Pier Paolo Pasolini. Com Franco Citti (Accattone), Franca Pasut (Stella), Silvana Corsini (Maddalena). 

Referência: Índices de um cinema de poesia. Pier Paolo Pasolini, Luis Buñuel e Krzysztof Kieslowski. Erika Savernini. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004

A trapaça

Augusto, Picasso e Roberto percorrem o interior da Itália aplicando golpes em camponeses. O trio enterra ossos e caixa com bugigangas debaixo de uma árvore dizendo se tratar de tesouro. Augusto, travestido de Monsenhor, diz que podem ficar com o tesouro se pagarem por missas. Em Roma, vão em uma favela se fazendo de agentes imobiliários do governo para recolherem a primeira prestação de casa populares.

Federico Fellini volta seu olhar neo-realista para a falta de escrúpulos de bandidos que exploram a miséria alheia. O conflito psicológico dos golpistas aflora em Picasso, confrontado por sua esposa Iris, e em Augusto, quando reencontra a filha nas ruas de Roma. Diferente de outros filmes de Fellini, quando os boas-vidas terminam na noite despretensiosa, Augusto, atormentado pela consciência, descobre que não há redenção para este tipo de crueldade.

A trapaça (Il bidone, Itália, 1955), de Federico Fellini. Com Broderick Crawford (Augusto), Richard Basehart (Picasso), Franco Fabrizi (Roberto), Giulietta Masina (Iris).

Stromboli

Em Fazer um filme, Federico Fellini depõe sobre o que aprendeu durante o período em que trabalhou com Roberto Rosselini.

“… É isso, parece-me que com Rossellini aprendi – um ensinamento nunca traduzido em palavras, nunca expresso, nunca transformado em programa – a possibilidade de caminhar em equilíbrio no meio das condições mais adversas, mais contrastantes e, ao mesmo tempo, a capacidade natural de usar em benefício próprio essa adversidade e esses contrastes, transformá-los num sentimento, em valores emocionais, num ponto de vista. Rossellini fazia isso, vivia a vida de um filme como uma aventura maravilhosa que deve ser vivida e contada.”

Essa aventura se expressa com letras maiúsculas em Stromboli. Karin e Antonio se conhecem no fim da guerra e se casam. Para Karin, o casamento não passa da fuga de seu passado, a perspectiva de um futuro menos vulnerável. Os dois se mudam para Stromboli, ilha de pescadores na Sicília onde Antonio nasceu. A realidade se defronta para Karin assim que desembarca na ilha: miséria, desolação, isolamento e o perigo do vulcão em constante estado de erupção.

“A ilha de Stromboli funciona como uma metáfora para o cinema italiano da época: poucos recursos de produção, uso de atores não profissionais, filmagem em locais externos muitas vezes massacrados pelo sol intenso e vento forte. Karin é obrigada a encarar a cultura da ilha e a falar uma nova língua, assim como Ingrid tem de aprender a interpretar no esquema do neorrealismo italiano, diante de não atores, sem maquiagem, sem fotografia caprichada ou belos vestidos.” – Pedro Maciel Guimarães.

A aventura de Rossellini resultou num dos filmes mais espetaculares do neorrealismo. A sequência da caça ao atum, um massacre sanguinário, contrapõe a necessidade de sobrevivência com atos violentos, ao som de um cântigo religioso. No final, a violência do vulcão coloca em prova a vida e a fé de Karin. Terra, mar e céu aberto desfilam nas lentes sem filtros de Rossellini.  A vida como ela é.

Stromboli (Itália, 1950), de Roberto Rossellini. Com Ingrid Bergman (Karin), Mario Vitale (Antonio), Renzo Cesana (Padre), Mario Sponsor (Homem do farol).

Referências:

Fazer um filme. Federico Fellini. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

Coleção Folha Grandes Astros do Cinema. Vol. 5: Ingrid Bergman. Cássio Starling Carlos.São Paulo: Folha de S. Paulo, 2014.

Obsessão

Obsessão (Ossessione, Itália, 1943), primeiro filme de Luchino Visconti, lançou as bases do neo-realismo italiano. Inspirado no romance O destino bate à sua porta, de James M. Cain, o filme foi rodado na cidade de Ferrara, contando com locações reais e os moradores atuando como figurantes.

O andarilho Gino Costa (Massimo Girotti) arranja emprego como mecânico em um restaurante à beira de estrada. A atração entre o vagabundo e Giovanna (Clara Calamai), mulher de seu patrão, é imediata . O encontro entre os dois é explosivo nas telas, química de corpos ardentes que não poupou o espectador de um erotismo perigoso na Itália fascista.

A história envereda para um crime passional, com os amantes arquitetando o assassinato do marido de Giovanna. No entanto, Obsessão é muito mais do que isto: o retrato frio e realista da Itália miserável, às voltas com o fascismo, com a hipocrisia religiosa, a alta voltagem erótica, fazem da obra não só um prenúncio do neo-realismo, mas do próprio cinema moderno.

Ao ver o filme, o ditador Benito Mussolini mandou retirá-lo de cartaz, afirmando: “Esta não é a Itália.” Nos Estados Unidos, Obsessão só foi liberado em 1976, pois como Visconti não pagou pela adaptação do livro, o escritor e os editores impediram a exibição em terras americanas. Tudo isto prejudicou o filme, mas abriu as portas do cinema para Luchino Visconti, um dos grandes diretores de todos os tempos.

Ladrões de bicicleta

Ladrões de bicicleta (Ladri di biciclette, Itália, 1948), de Vittorio De Sica, é dos meus filmes favoritos. Impossível não se emocionar com diversas cenas, mesmo após inúmeras revisões. Principalmente com a sequência final. O filme termina e você percebe que não pode ficar impassível, pois o olhar de Bruno em direção ao pai faz cada espectador reafirmar ou rever princípios e valores.

O filme é o representante mais famoso do neo-realismo, movimento cinematográfico que começou na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, influenciando decisivamente o cinema mundial, a ponto de ser considerado a base do cinema moderno.

“O cinema rodado pelas ruas, os atores apanhados na rua, a realidade fixada sem manipulações e sem preconceitos (‘A realidade está lá. Por que manipulá-la?’, era o estribilho rosselliano mais citado pelos jovens críticos franceses): estas são algumas das fórmulas dentro das quais se tentou sintetizar a experiência do cinema neo-realista italiano.” – Antonio Costa.

Um dos mais impressionantes méritos de Ladrões de bicicleta é a atuação dos protagonistas. Lamberto Maggiorani (Antonio) trabalhava como operário e Enzo Staiola (Bruno) foi escolhido pelo diretor durante as filmagens. O menino observava a gravação de cenas nas ruas de Roma. A fascinante atuação é atribuída, em grande parte, ao talento de De Sica em dirigir atores, observando e incentivando os profissionais a explorarem seus principais atributos. No caso de Maggiorani e Staiola, isto significou interpretarem eles mesmos.

“Antonio não é um operário desempregado qualquer, mas ‘o operário desempregado’, quase como um paradigma vivo. Não se trata de um símbolo ou metáfora, mas de um signo, o que também se poderia dizer dos outros personagens. Porém, como tais figuras não pretendem apenas ‘representar’, mas também ‘ser’, é lógico que tenham sentimentos e não somente razões.” – Juan D. Castillo.

Neste sentido, não é difícil entender porque Ladrões de bicicleta é repetidamente citado como o filme mais encantador e adorado do cinema. A melodramática busca de Antonio e Bruno pela bicicleta nas ruas de Roma equivale ao caminho que todo cidadão comum percorre em uma grande metrópole: trabalhadores e desempregados, donzelas e prostitutas, padres e ladrões, todos se confundem nas vielas, nos cruzamentos. A câmera de De Sica reflete o cânone deste movimento subversivo no cinema.

“O roteirista Cesare Zavattini foi um dos principais nomes do movimento e um de seus mais importantes teóricos. Ele convocou os cineastas para saírem às ruas, subirem em ônibus e bondes e ‘roubarem’ as histórias do cotidiano, relatando em seu diário de guerra Diario di cinema e di vita: ‘Montemos a câmera na rua, num quarto, observemos com paciência insaciável, treinemo-nos para contemplar nossos semelhantes em seus gestos mais simples.’” –  Philip Kemp.

Bruno recolhendo do chão o chapéu do pai e o limpando, na sequência final de Ladrões de Bicicleta, é destes gestos simples do cotidiano. Revela para o coração mais empedernido toda a complexa beleza, muitas vezes triste, é verdade, que permeia as atitudes de um pai sob o olhar do filho.

REFERÊNCIAS:

Os clássicos do cinema. Juan D. Castillo (editor). Edições Altaya, 1997

Compreender o cinema. Antônio Costa. São Paulo: Globo, 1989

Tudo sobre cinema. Philip Kemp. Rio de Janeiro: Sextante, 2011.

Onde está a liberdade?

A reunião entre Totó, dos mais famosos comediantes italianos, com Roberto Rossellini, pai do neorrealismo, resultou em um filme divertido e crítico da sociedade italiana. O barbeiro Salvatore Lojacono acaba de cumprir 20 anos de prisão por ter assassinado o amante de sua mulher. Sem conseguir se integrar à sociedade, ele tenta de tudo, inclusive indo aos tribunais para voltar para a prisão. 

Os momentos divertidos da trama se concentram na defesa própria que Salvatore faz no tribunal, tentando convencer os jurados que precisa voltar para a prisão, onde foi mais feliz. Durante a defesa, flaschbacks mostram sua vida na prisão e nas ruas, após a liberdade. Rossellini aborda questões como marginais que não conseguem se reintegrar à sociedade, mesmo após pagar por seu crimes; pessoas que transitam pela noite sem emprego na Itália do pós-guerra, marcada pelo individualismo; a falta de moradia; enfim, a Itália que tenta se reerguer das tragédias da Segunda Guerra Mundial, mas esquece de seus cidadãos mais necessitados. Roberto Rossellini filma tudo com a estética neorrealista, buscando o cotidiano da cidade, bem ao seu estilo quase documental. 

Onde está a liberdade (Dovè la libertà…?, Itália, 1954), de Roberto Rossellini. Com Toto (Salvatore Lojacono), Vera Molnar (Agnese), Andrea Compagnini (Nadino Torquati), Augusta Mancini (Teresa). 

A terra treme

A terra treme, segundo filme de Luchino Visconti, segue à risca os preceitos do neo-realismo. A história é rodada em locações, uma pequena cidade de pescadores na Sicília. Os atores são os próprios pescadores. A equipe de produção é reduzida ao mínimo. Os equipamentos são apenas os essenciais.  A trama tem o tom de denúncia social. Além disso, Visconti escrevia o roteiro durante as filmagens. Depoimento de Visconti:

“O filme é realizado, todo, não só com personagens verdadeiros, mas sobre situações que se criam de repente, enquanto eu vou seguindo um leve argumento que, por força das coisas, é pouco a pouco modificado. Os diálogos eu escrevo na hora, com a ajuda dos mesmos intérpretes, isto é, perguntando para eles como instintivamente exprimiriam um determinado sentimento, e quais palavras eles utilizariam. O diálogo nascia então dessa forma: eu dava só o esboço, eles acrescentavam idéias, imagens, etc. Depois eu os mandava repetir o texto, às vezes por três ou quatro horas, assim como se faz com os atores. Mas eu não mudava as palavras. Tinham ficado fixas; como se fossem escritas. E, entretanto, não eram escritas, mas inventadas pelos pescadores. Quando Brancati que é um ótimo autor siciliano, ouviu esses diálogos, exclamou: ‘São os diálogos mais lindos do mundo! Ninguém teria podido escrever nada parecido!’ É verdade; esses diálogos são lindos porque são justos. São como uma parte daquela gente; até nos momentos dramáticos eles se expressam assim.” 

Outra ousadia do diretor foi usar o dialeto dos pescadores da Sicília, escolha que provocou revolta de parte da crítica. “A língua, depois: de toda parte chegam, contra Visconti, violentas acusações de esnobismo intelectual por ter utilizado o dialeto siciliano e por ter colocado na boca dos pescadores de Aci Trezza uns textos que, afinal, são de Verga, o que significa que não são propriamente populares e espontâneos.” 

É uma história real, uma contundente denúncia contra as condições de trabalhos dos pescadores. Os pescadores de Aci Trezza são explorados pelos atacadistas, trabalhando em péssimas condições, colocando a vida em risco no mar e vendendo o peixe a preço mínimo, apenas para sobreviverem. Os atacadistas enriquecem com a situação, até que Ntoni Valastro se rebela e passa a vender seu próprio peixe. A família consegue capital para investir no negócio, mas uma tempestade coloca tudo a perder. Os atacadistas, então, se vingam de Ntoni, provocando a degradação da família Valastro: eles perdem a casa, Ntoni se entrega à bebida, o irmão vai embora da cidade e se envolve com atividades ilícitas, a irmã é desonrada por um policial, os irmãos menores vão dormir todas as noites reclamando da fome.

O melodrama é o tom do filme, como vários outros de Visconti. A degradação da família toca fundo no espectador, com sequências de uma triste beleza: as mulheres olhando para o mar, ansiosas pela volta de maridos e filhos em dias de tempestade; os pescadores remando com esperança e determinação, os barcos lado a lado como a nascer uma consciência coletiva. A terra treme é um filme para se assistir com os olhos e o coração abertos.“

Referências: Luchino Visconti. Um diretor do outro mundo. Claudio M. Valentinetti. Brasília: M. Farani Editora, 2006

Era noite em Roma

Três militares fogem de um campo de prisioneiros durante a ocupação nazista na Itália. São acobertados por um grupo de freiras e conseguem chegar a Roma, onde conseguem abrigar-se na casa de Esperia. Escondidos no sótão, vivem os dilemas entre continuarem enclausurados ou se arriscarem pelas noites da cidade junto com a resistência até conseguirem chegar às suas tropas. 

Roberto Rossellini (registros apontam que ele não concluiu o filme devido a problemas com a produção) trata novamente da segunda guerra e da resistência italiana. Os militares são de nacionalidades diferentes e, cada uma à sua maneira, enfrentam as angústias de soldados que se sacrificam, diariamente, lutando longe de casa, das famílias, buscando sentido para essa entrega.  

Era noite em Roma (Era notte a Roma, Itália, Itália, 1960), de Roberto Rossellini. Com Leo Genn (Michael Penberton), Giovanna Ralli (Esperia), Sergey Bondarchuk (Fyodor Nazukov), Renato Salvatori (Renato Balducci), Peter Baldwin (Peter Bradley).