Ferrugem

Ferrugem é dos mais impactantes filmes do cinema contemporâneo brasileiro. A adolescente Tati está às voltas com um pretenso namorado, o introvertido e estranho Renet. Durante final de semana com amigos da escola, Tati perde seu celular. Pouco depois, vídeo íntimo dela com o antigo namorado invade as redes sociais. Este ato criminoso, infelizmente comum nos dias de hoje, desencadeia série de conflitos envolvendo Tati e os meninos e meninas da escola e a família de Renet. A grande virada do filme é das cenas mais chocantes e perturbadoras: Tati sozinha no corredor da escola, em frente à câmera de segurança.

O filme conquistou importantes prêmios no Brasil. Traz à tona duas gerações envoltas em seu próprios problemas: os adolescentes consumidos pelas redes sociais, sem saber lidar com a gravidade de atos como postar a intimidade alheia no ambiente virtual; os pais que convivem com problemas nos relacionamentos, no mercado de trabalho, no trato com os filhos. Filme que remete à reflexão destes tempos modernos. 

Ferrugem (Brasil, 2017), de Aly Muritiba. Com  Tiffany Dopke (Tati), Giovanni De Lorenzi (Renet), Enrique Diaz (Davi), Clarissa Kiste (Raquel), Pedro Inoue (Normal).  

A gente

Aly Muritiba trabalhou como agente penitenciário no Paraná. A experiência serviu de inspiração para a Trilogia do cárcere, composta por dois curta-metragens, A fábrica (2011), Pátio (2013) e o longa A gente. O filme, misturando estilos do documentário e da ficção, foi realizado no presídio onde Aly Muritiba trabalhou, em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba. 

A narrativa segue o cotidiano de equipe de agentes penitenciários, liderados por Jefferson Walku. Conflitos rotineiros são retratados, como a tensão no trato com os presidiários, falta de condições de trabalho, superlotação das celas, ausência de estrutura para os trabalhadores e falta de condições dignas para os presos. O ponto de vista escolhido pelo diretor é dos agentes, os presos não aparecem, o espectador ouve apenas suas vozes ou os vê à distância. Quando a câmera sai da prisão, acompanha a rotina pessoal de Jefferson em família ou atuando como pastor em igreja evangélica. Aly Muritiba exercita o estlo doc/fic com potência narrativa, demonstrando a força dos novos realizadores do cinema brasileiro contemporâneo.  

A gente (Brasil, 2013), de Aly Muritiba. Com Jefferson Walku, Tiago Simioni Andreatta, Manassas da Silva, Ivanney Montenegro.