Mulheres diabólicas

Um dos diretores da primeira geração da nouvelle-vague francesa, Claude Chabrol sempre foi o mais apegado ao filme de gênero. Mulheres diabólicas é um thriller psicológico, regado a altas doses de violência. Sophie trabalha como empregada doméstica para Catherine em uma casa campestre. Ela desenvolve uma estranha amizade com Jeanne, funcionária dos correios local. Quando as duas começam a frequentar a casa, promovendo ruidosos e inconvenientes encontros, Catherine demite a empregada. 

Isabelle Huppert é o destaque da trama, sua personagem se revela cada vez mais e mais perigosa, a princípio com ideias subversivas, em uma espécie de ajuste de contas entre classes. O violento final, com as duas amigas de cartucheiras em punho, é de revirar os sentidos do espectador. 

Mulheres diabólicas (La cérémonie, França, 1995), de Claude Chabrol. Com Isabelle Huppert (Jeanne), Sandrine Bonnaire (Sophie) Jacqueline Bisset (Catherine), Jean-Pierre Cassel (Georges), Virginie Ledoyen (Melinda), Valentin Merlet (Gilles).  

A teia de chocolate

Os filmes de Claude Chabrol flertam sempre com o thriller psicológico através de tramas que surpreendem pela complexidade dos personagens. Em A teia de chocolate, a esposa do pianista André morre em um acidente de carro. Ele volta a se casar com sua primeira esposa, Mika, especialista em chocolates. A rotina do casal muda de forma avassaladora quando a jovem Jeanne entra em cena, trazendo à tona um mistério do passado de André, envolvendo uma possível troca de bebês na maternidade. 

A narrativa não fornece grandes surpresas, os enigmas do passado, envolvendo também a morte da primeira esposa de André, se tornam previsíveis à medida que a narrativa avança. O destaque da película é Isabelle Huppert/Mika que, através de seus chocolates, seduz, inebria e se revela cada vez mais e mais perigosa. 

A teia de chocolate (Merci pour le chocolat, França, 2000), de Claude Chabrol. Com Isabelle Huppert (Mika), Jacques Dutronc (André Polonski), Anna Mouglalis (Jeanne), Rodolphe Pauly (Guillaume Polonski). 

Entre amigas

O estudo de Claude Chabrol sobre a juventude parisiense, entregue aos prazeres mundanos da noite, tem um final misterioso e perturbador. Quatro amigas trabalham em uma loja de eletrodomésticos, contando as horas para o final do expediente, quando saem em busca de diversão. Rita é noiva de um jovem da alta sociedade. Ginette esconde das amigas sua vida dupla na noite. Jane namora um militar mas se entrega a outros homens, como se vivesse cada noite ao extremo. Jacqueline, cujo olhar traduz sonhos, está sozinha e nutre fascínio por um motociclista que a segue pelas noites.

Claude Chabrol traça um retrato da futilidade dessas procuras, muito bem representado em uma dupla de amigos que beiram o ridículo em seus comportamentos – a sequência de piscina provoca a mais pura repulsa a homens dessa estirpe. Outro ponto em destaque na trama é o constante assédio masculino às jovens, seja no trabalho ou nos bares pelas noites. O final surpreendente, seguido de uma misteriosa aparição, faz de Jacqueline uma das grandes personagens desta intrigante e misteriosa nouvelle-vague francesa.

Entre amigas (Les bonnes femmes, França, 1960), de Claude Chabrol. Com Bernadette Lafont (Jane), Clotilde Joano (Jacqueline), Stéphane Audran (Ginette), Lucile Saint-Simon (Rita).

Os primos

959 é um ano importante na história do cinema francês e mundial. Três jovens diretores, saídos da prestigiada revista de crítica Cahiers du Cinéma, lançam filmes que praticamente inauguraram a nouvelle-vague francesa: Jean-Luc Godard (Acossado), François Truffaut (Os incompreendidos) e Claude Chabrol (Os primos).

Os primos narra as incursões pelas noites parisienses de duas personalidades contrastantes: Paul é o bon-vivant, afeito às relações fugazes, anfitrião de festas em seu apartamento; Charles, o primo vindo do interior da França, é romântico, estudioso, enquanto tenta se situar em Paris, não esquece de escrever cartas para a mãe. Charles se apaixona por Florence, uma das mulheres de Paul, e este triângulo amoroso sela o destino dos primos.

O filme reflete o estilo destes primeiros anos da nouvelle-vague, retratando a juventude irrequieta, dançando no limiar entre as noites descompromissadas da capital francesa, a intelectualidade e a consciência política. O impacto do final faz pensar neste cinema repleto de surpresas.

Os primos (Le cousins, França, 1959), de Claude Chabrol. Com Gérard Blain (Charles), Jean-Claude Brialy (Paul), Juliette Mayniel (Florence), Claude Cerval (Clóvis).

Um assunto de mulheres

Segunda guerra mundial. Em pequena cidade do interior da França ocupada, Marie cuida de seus dois filhos pequenos enquanto seu marido está em combate. Ela é bem sucedida ao ajudar sua vizinha a fazer um aborto. Quando seu marido é dispensado devido a ferimentos, Marie tem que se virar para sustentar a família e passa a ganhar dinheiro com abortos e com aluguel de um quarto para a amiga prostituta receber seus clientes. 

Isabelle Huppert foi premiada em festivais pelo desempenho como a jovem impetuosa e inconsequente que tenta não apenas sobreviver, mas ascender socialmente durante a guerra com atividades clandestinas. Não se vê como delinquente, é apenas seu modo de ganhar a vida e ajudar as mulheres. Em contrapartida, seu marido fecha os olhos para tudo, aceitando sem questionar o dinheiro de Marie. A crueldade e hipocrisia da guerra afloram no final, quando os homens decidem que Marie deve ser punida exemplarmente, enquanto eles mesmos enviam e executam crianças judias nos campos de concentração. 

Um assunto de mulheres (Une affaire de femmes, França, 1988), de Claude Chabrol. Com Isabelle Huppert (Marie Latour), François Cluzet (Paul), Nils Tavernier (Lucien), Marie Brunel (Ginette).