A mansão do inferno

O italiano Dario Argento é um dos responsáveis por definir o gênero terror a partir dos anos 70. Os diretores ainda não tinham a tecnologia digital para criar com perfeição monstros, vampiros, lobisomens e tudo mais que assombra o espectador. Contavam com velhos truques do cinema, principalmente a interação assustadora entre personagens e cenários.

A estrutura de A mansão do inferno (1980) apresenta clichês da narrativa de terror. Em uma noite, Rose Elliot (Irene Miracle) se fascina com a leitura de As três mães, livro escrito por um arquiteto e alquimista. O autor projetou três casas que serviram de morada às três mães do título, na verdade, as encarnações do mal: Mater Suspiriorum, Mater Tenebrarum e Mater Lacrimarum. O filme é sequência de Suspiria (1977) e centra a história em Mater Tenebrarum. A terceira parte, que traria Mater Lacrimarum, nunca foi realizada.

A mansão projetada pelo alquimista em Nova York é o cenário para Argento explorar as demais premissas do gênero. Grande parte da ação se passa em uma noite de tempestade, com janelas se quebrando e cortinas esvoaçando. Os relâmpagos deixam vislumbrar sombras por trás das janelas. As primeiras vítimas são belas mulheres, a sensualidade evidenciada por roupas molhadas, coladas no corpo. A cor dominante do filme é o vermelho, espalhado pelos ambientes. Dario Argento trabalha ainda com requisitos básicos de sua filmografia de terror, como gatos e ratos projetados como feras assassinas, closes em garras e dentes.

A história, como em tantos filmes do gênero, não importa muito. É apenas pretexto para o diretor explorar seus assustadores truques. E, nisto, Dario Argento é mestre.

A mansão do inferno (Inferno, Itália, 1980), de Dario Argento.

Suspiria

A partir do sucesso de  O bebê de Rosemary (1968), filmes cujas tramas abordam seitas às voltas com demônios, bruxas, magia negra, invadiram os cinemas dos anos 70/80. Dario Argento revigora o gênero com a mais impressionante experiência estética e sonora. 

A trama de Suspira é simples e recorrente em obras similares: a jovem americana Susy Banyon chega a Fribourg, Suíça, para morar e estudar em uma famosa academia de dança. É noite, chove torrencialmente quando ela desembarca. Na porta da academia, ela se encontra com uma jovem desesperada que foge pelas ruas. Pouco depois, a jovem é assassinada. 

Logo nos primeiros minutos, a marca de Dario Argento mostra sua força. O assassinato da jovem ocorre em um prédio de apartamentos de cores extravagante, vidraças compostas por impressionantes mosaicos coloridos, luzes e clarões dos relâmpagos que ecoam pelos ambientes provocando um labirinto de cores e sensações. Junte a isso sons estridentes e a trilha sonora de rock pesado que retumbam no ouvido junto com gritos das personagens. 

Suspiria transcorre em um cenário classicamente gótico – uma velha academia de dança. A verdadeira natureza do que é ensinado lá nos é revelada em uma chuva de larvas que cai sobre as meninas numa tarde. Nessa completa nojeira reside uma espécie de chave, já que as grandes cenas espetaculares em si se tornam testes de resistência. Enquanto o público e a estudante Susy Banyon (Jessica Harper) são transportados por sinais de revelações misteriosas e esotéricas, a intensa matriz de choques e efeitos audiovisuais de Suspiria se mantém no limite de se tornar insuportável. Essa é a textura de todo o filme, não só em suas grandiosas mortes surreais mas também em seus gestos mais ínfimos, como quando um instrutor de dança maligno derrama um jarro de água inteiro na boca de Susy e notamos o jarro pesado chocalhando contra os seus dentes.”

Suspiria (Itália, 1977), de Dario Argento. Com Jessica Harper, Stefania Casini, Flavio Bucci, Miguel Bosé, Barbara Magnolfi.