Constans

Após dar baixa em seu treinamento no exército, o jovem Witold consegue emprego como eletricista. No primeiro dia de trabalho, ele revela à Marius, seu chefe imediato, que tem pouca experiência na função. Marius responde que “basta ele ser honesto.” É o tema do mais famoso filme de Zanussi, ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Cannes. 

A honestidade de Witold passa a ser confrontada por seus próprios colegas de trabalho, incluindo Marius, que exigem que o jovem faça pequenas negociações escusas no ambiente de trabalho, proporcionando lucro extra aos trabalhadores.

Em outro ambiente, um hospital, Witold também se depara com a corrupção. Sua mãe é internada devido a um câncer terminal e conseguir vaga em um quarto, assim como medicamentos, depende de “contribuições” para os funcionários do hospital. 

Constans é o retrato frio e cruel do fim do sonho comunista na Polônia. Em determinado momento, Marius pergunta a Witold: “Qual o seu preço?”, afirmando que mais dia menos dia o jovem idealista também será corrompido. Witold resiste, sua moral e ética prevalecem, talvez um ingênuo como Cândido, que infelizmente só existam na literatura e no cinema.  

Constans (Polônia, 1980), de Krzysztof Zanussi. Com Tadeusz Bradecki (Witold), Zofia Mrozowska (Mãe de Witold), Małgorzata Zajączkowska (Grażyna), Witold Pyrkosz (Marius)

Mimetismo

A trama se passa em uma grande casa de campo, durante um congresso universitário de apresentação de artigos científicos. O jovem professor Jakub é o responsável pela organização do evento, tendo que prestar contas sempre a Jaroslaw, seu antigo professor. 

Os longos embates entre os dois professores, de posições intelectuais conflitantes, dominam a narrativa. Outro conflito acontece entre um grupo de alunos, insatisfeitos com os rumos das apresentações, e os organizadores. 

O diretor Krzysztof Zanussi retrata neste pequeno microcosmo burguês intelectual a situação da Polônia durante o regime comunista, marcada por conflitos de classes, por embates entre os velhos representantes do partido e os jovens ansiosos por mudanças. É o eterno conflito de gerações, radicalizado em uma sociedade que insiste em preservar os valores sociais, políticos e culturais do regime dominante. 

Mimetismo (Barway ochronne, Polônia, 1977), de Krzysztof Zanussi. Com Piotr Garlicki (Jaroslaw Kruszyński), Zbigniew Zapasiewicz (Jakub Szelestowski), Christine Paul (Nelly). 

Iluminação

O filme abre com o Professor Wladyslaw Tatarkiewicz discursando para o espectador sobre o conceito de iluminação, definido por Santo Agostinho. A seguir, uma série de cenas do jovem Franciszek Reitman passando por provas físicas e psicológicas, visando sua aprovação em uma conceituada universidade polonesa para estudar física. 

A narrativa acompanha os conflitos psicológicos de Franciszek durante seus estudos e sua convivência social. É um embate entre a razão e a fé, entre o racionalismo e a emotividade. Tudo se transforma para o jovem estudante quando ele se apaixona, casa e tem um filho. 

Ao acompanhar dez anos na vida de Franciszek, o diretor Krzysztof Zanussi tece uma profunda reflexão sobre a juventude polonesa do pós-guerra que busca sentido para a vida na sociedade regida pelo comunismo. Promessas que não se cumprem, amores que devem sobreviver ou não às dificuldades cotidianas, a busca pelo trabalho, pelos estudos, o essencial contraponto entre a fé e a razão, é a Polônia refletida em um cinema poderoso e poético. 

Iluminação (Iluminacja, Polônia, 1973), de Krzysztof Zanussi. Com Stanislaw Latallo (Franciszek Retman), Monika Dzienisiewicz (Agnieszka), Małgorzata Pritulak (Małgorzata).