Cafarnaum

Cafarnaum é de verter lágrimas em diversas cenas. Começa com Zain, garoto de 12 anos, preso por esfaquear um homem. Flashbacks narram a saga do garoto, morador de uma favela de Beirute. Ele tem relação protetora com a irmã mais nova e se revolta quando ela é oferecida a um comerciante para casamento. Ele foge de casa, empreende jornada miserável pelas ruas da cidade até ser abrigado por uma refugiada da Etiópia. 

A câmera realista acompanha a luta de Zain por sobrevivência em meio ao caos da capital libanesa. A humanidade e coragem do garoto são motivadores, como a dizer que resta sempre esperança na miséria; que é preciso combater com toda vontade a crueldade dos adultos que exploram até a morte homens, mulheres e crianças. 

Cafarnaum (Capharnaum, Líbano, 2018), de Nadine Labaki. Com Zain Al Raffea, Yordanos Shiferaw.

O insulto

Um bairro da periferia do Líbano está passando por reformas, patrocinadas por um deputado. O libanês Tony, cristão ortodoxo, está molhando as plantas na sacada do seu apartamento. A água escorre pela calha e molha o mestre de obras Yasser, refugiado palestino. A equipe de Yasser tenta consertar a calha, mas Tony recusa de forma agressiva, pois sente-se ofendido por ter sido abordado em casa. Ele exige desculpas do palestino.

O incidente banal, bate boca rotineiro, ganha dimensões impressionantes na trama do libanês Ziad Doueiri. A medida que a narrativa avança, o passado dos protagonistas aflora, primeiro na tentativa de reconciliação em frente à juíza, depois durante o julgamento midiático, colocando como opositores advogados também com assuntos pessoais a resolver.

O cerne da questão coloca O insulto como dos grandes filmes (e roteiros) do cinema independente: a intolerância, o preconceito racial, a violência ameaçando explodir a cada palavra desferida. O trunfo do filme é colocar dois cidadãos que buscam apenas cuidar de suas casas, de suas famílias, de seu trabalho, como motivadores do conflito. Tudo poderia ser resolvido com uma conversa amigável, mas décadas de ódio racial impedem um simples aperto de mãos.

O insulto (L’Insulte, Líbano, 2017), de Ziad Doueiri. Com Adel Karam (Toni), Kamel El Basha (Yasser), Camille Salameh (Wajdi Wehbe), Diamand Abou Abboud (Nadine Wehbe), Rita Hayek (Sherine Hanna).