O filme segue a trajetória de duas jovens dominadas pela sociedade patriarcal na URSS. Os jovens Anna e Ivan se apaixonam à primeira vista, mas Anna alimenta também os desejos do conservador pai de Ivan, rígido fazendeiro que controla a vida de seus filhos. Valisia, também filha do fazendeiro, mantém relacionamento com um pobre ferreiro e confronta o pai para seguir sua vida. É expulsa de casa e luta pela sobrevivência ao lado do marido. A primeira guerra mundial muda o destino das duas mulheres, principalmente de Anna que passa a ser assediada pelo sogro enquanto Ivan está em batalha.
Mulheres de Ryazan é denúncia forte contra essa sociedade patriarcal que subjuga as mulheres quase à escravidão. A diretora Olga Preobrazhenskya usa do melodrama para denunciar questões que demarcam a luta feminista. A ousadia da diretora encontra eco na ousada sugestão de estupro e condenação da jovem Anna que passa a ser tachada, após o ato, de “meretriz” pela sociedade, enquanto seu poderoso algoz continua a ser admirado.
Mulheres de Ryazan (Baby Ryazanskie, Rússia, 1927), de Olga Preobrazhenskaya. Com Raisa Puzhnaya, Olga Narbekova, Kuzma Yastrebitsky, Yelena Maksimova.
O último filme da fase muda de Eisenstein, também conhecido como A linha geral no Brasil, retrata o cotidiano de trabalhadores do campo na URSS, logo após a revolução bolchevista. Tratar a terra para o plantio é um sofrimento para famílias pobres que não têm um cavalo para puxar o arado. Nesse contexto de luta e miséria, a jovem Marfa tenta convencer os camponeses a se organizarem em uma cooperativa. A perseverança e entrega de Marfa a coloca como uma das mais fortes personagens do cinema mudo, passando por provações e seguindo em frente com determinação.
Velho e novo traz os princípios do cinema de Eisenstein, baseados na força da imagem, com planos e ângulos ousados dos rostos, dos corpos das trabalhadoras e trabalhadores em seu sofrimento cotidiano. A montagem continua sendo destaque, a alternância entre dispositivos mecânicos, como o arado e a primária máquina de leite, com rostos, olhares e punhos dos trabalhadores trazem força ideológica à narrativa.
Velho e novo / A linha geral (Staroye I Novoye, Rússia, 1919), de Sergei Eisenstein. Com Marfa Lapkina, Konstantin Vasilyev, Vasili Buzenkov.
A mãe (Mat, Rússia, 1926), primeiro filme de Vsevolod Pudovkin segue os preceitos básicos do chamado cinema revolucionário soviético, ou vanguarda russa: valorização ideológica da revolução russa, amparada em ousadias no trato da linguagem cinematográfica, principalmente usando a montagem para criar sentidos ideológicos.
A trama, adaptada do romance de Gorki, se passa durante os protestos que aconteceram na Rússia em 1905, quando grupos de trabalhadores organizaram greves e protestos nas ruas contra o regime czarista. Vera Baranovskaya interpreta a mãe, cujo filho é um dos líderes dos movimentos sociais. Fugindo das autoridades, uma noite, o filho esconde armas e panfletos no chão da casa. A mãe, que parecia dormir, vê o local do esconderijo. Quando as autoridades invadem a casa em busca do líder, a mãe, tentando salvá-lo da prisão, revela o esconderijo aos policiais. Esse gesto de traição acaba contribuindo para condenar o próprio filho, que é sentenciado a trabalhos pesados na prisão.
Pudovkin imprime ao filme fortes cenas de confrontos entre grevistas e trabalhadores que são contra o movimento, servindo aos patrões e autoridades que incentivam esses confrontos. É o forte retrato social da época, realçando questões como violência doméstica, entreguismo de trabalhadores ao sistema, crueldade da polícia czarista, miséria dos trabalhadores que buscam refúgio no álcool; enfim, a realidade soviética que prepararia a sociedade para a grande revolução de 1917. O final é apoteótico, quando a população se une em direção ao presídio e é rechaçada a tiros pela autoridade.
“Pudovkin dirigiu A mãe (Mat, União Soviética, 1926) quando tinha 27 anos. (…) A mãe foi quase tão influente quanto Potemkin. Havia rivalidade entre Pudovkin e Eisenstein, por isso o primeiro criou uma estrutura musical para o filme (allegro – adagio – allegro) que era muito diferente da montagem alternada de Eisenstein. A mãe é dominado por close-ups, alguns dos quais, como os de uma cena de bar com uma banda, são retratos vívidos de seres humanos reais. Quando o filho pega sua arma para começar a atirar de volta contra as autoridades que tentam debelar a greve, a mãe, em uma série de dissolves de meio segundo, imagina sua morte. Ela se levanta e dois planos curtos mostram seu grito de pânico. Pudovkin percorre com a câmera todo o comprimento do filho aparentemente morto. No fim do filme, antes de a mãe ser morta pela cavalaria czarista de passagem, seu rosto aterrorizado aparece outra vez, mas apenas por dezesseis quadros. Embora Vera Baranovskaya ofereça uma grande e estóica interpretação no papel principal da mãe, os momentos de humanidade do filme são abafados por sua brutal literalidade. Quando a mãe é filmada de um ponto de vista elevado, Pudovkin destaca seu sofrimento e, quando ela é filmada de baixo, parece nobre. Esse viés ideológico, que também tinge boa parte do cinema soviético da década de 1920, enfraquece a obra de Pudovkin.” – Mark Cousins
Referência:
História do cinema mundial. Dos clássicos mudos ao cinema moderno. Mark Cousin. São Paulo: Martins Fontes, 2013
O americano Mister West viaja à URSS para conhecer o “país dos bolcheviques”. Influenciado pela leitura de publicações americanas que retratam os soviéticos como “selvagens”, leva na viagem o Caubói Jeddy como guarda-costas. Os dois protagonizam uma série de peripécias, incluindo sequestro e tiroteios bem ao estilo western americano nas ruas de Moscou.
A comédia de Kuleshov, um dos principais teóricos da montagem revolucionária soviética, apresenta, a princípio, a confirmação da visão estereotipada dos americanos sobre a revolução socialista. Trupe de vagabundos sequestra Mister West e forjam situações satíricas da sociedade, visando ganhar o dinheiro do resgate. A virada no final apresenta “a verdadeira URSS”, referendando o ponto de vista de Kuleshov sobre a ideologia socialista, bem afeita aos tempos de Stalin no poder.
As aventuras extraordinárias de Mister West no país dos bolcheviques (Neobychainye Priklyucheniya Mistera Vest V Strane Bolshevikov, Rússia, 1924), de Lev Kuleshov. Com Porfir Podobel, Boris Barnet, Aleksandra Khokhlova.