Argentina, 1985

O jovem advogado Luis Moreno Ocampo tenta convencer o procurador Júlio César Strassera a aceitá-lo como auxiliar no julgamento dos militares na Argentina. No corredor do tribunal, ele argumenta: “Sou de família de militares. Meu tio é coronel. Minha mãe frequenta a mesma igreja que o Videla. Para ela, ele fez a coisa certa. Veja por esse lado. Este é um novo governo. Um governo fraco que sofre pressão de militares. Tomaram a decisão correta de julgá-los. Por isso, acho bom ter advogados jovens em vez dos que apoiam os direitos humanos, que poderiam ser considerados como comunistas. Não só pelos militares, mas também pela classe média, que é aquela que precisamos convencer para termos legitimidade, levando em conta a tendência da classe média de justificar todo golpe militar.

A última frase demonstra a atualidade deste filme. Em 1983, o presidente Raul Alfonsin decidiu julgar os militares que comandaram o país durante a ditadura na Argentina. Eles foram acusados de crimes contra a humanidade. 

A narrativa de Argentina, 1985 acompanha os processos que antecederam o julgamento, quando o procurador Strassera, seu auxiliar Ocampo e um grupo de jovens advogados recolheram centenas de depoimentos de civis que foram presos e torturados arbitrariamente, de pessoas que tiveram familiares desaparecidos durante o regime militar. 

O julgamento abre amplo espaço para depoimentos aterradores, como o de uma jovem grávida que deu à luz no banco do carro dos militares, sem qualquer tipo de ajuda, depois foi torturada durante dias e dias. Ela depõe diante do olhar frio e impassível dos militares sentados no banco dos réus.

Argentina, 1985 é um filme aterrador, por uma questão muito simples: é baseado em fatos reais. Deve servir de alerta para que histórias assim não se repitam, apesar da classe média de certos países aindam insistirem no clamor por golpes militares.

Argentina, 1985  (Argentina, 2022), de Santiago Mitre. Com Ricardo Darín (Júlio César Strassera), Gina Mastronicola (Verónica), Peter Lanzani (Luís Moreno Ocampo), Santiago Armas Este (Javier), Claudio da Passano (Somi).

A cordilheira

Hotel na Cordilheira dos Andes, Chile, sedia a cúpula de presidentes dos países da América do Sul e da América Central. O objetivo é criar organização para exploração das reservas de petróleo na região. Oliveira Prete, presidente do Brasil, é o influente líder, pois o país concentra grande parte das reservas e detém a maior empresa petrolífera. 

A cordilheira concentra a narrativa na cúpula, com a trama centrada em Hernán Blanco, presidente da Argentina. Homem comum, alçado à presidência após governar pequena província do país, Blanco é o curinga das negociações que envolve o inescrupuloso presidente mexicano e os interesses dos americanos em controlar a exploração do petróleo em todas as Américas.

Um mistério do passado do presidente argentino pontua a narrativa quando entra em cena Marina, filha de Hernán Blanco. Os problemas psicológicos de Marina apontam para questões do passado que podem ou não ter acontecido. Na cúpula, a trama aponta para jogos de interesses, negociatas e interesses políticos determinados pelo poderio econômico.   

A cordilheira (La cordillera, Argentina, 2017), de Santiago Mitre. Com Ricardo Darín (Hernan Blanco), Dolores Fonzi (Marina), Oliveira Prete (Leonardo Franco), Erica Rivas (Luisa Cordero).