
A corda da romã foi mais um dos grandes filmes soviéticos censurados pelo regime. Coisas dos ditadores que nomeiam a arte, principalmente o cinema, como inimigos do governo.
O diretor Sergei Parajanov faz um retrato lírico, poético, surrealista, de Sayat Nova, poeta armênio do século XVII, apelidado de o “Rei da Canção.” Sem narrativa, a obra é uma sucessão de poesia visual lírica, com fortes ressonâncias religiosas. Experiência estética bem ao estilo do novo cinema dos anos 60 que correu o mundo com ousadia, o cinema rebelde que reverbera até hoje.
“O uso notável do enquadramento similar ao de uma pintura evoca o espaço restrito de filmes feitos há cerca de um século, ao passo que o uso magnífico da cor e os extravagantes conceitos poéticos e metafóricos parecem originários de algum cinema utópico do futuro. Não temos, entretanto, que decifrar as imagens de modo sistemático para experimentar o seu assombroso poder. Os planos da abertura mostram três romãs que espalham seu suco vermelho sobre uma toalha de mesa branca, um punhal manchado de sangue, pés descalços esmagando uvas, um peixe (que imediatamente vira três peixes) se agitando entre duas tábuas de madeira e água caindo sobre livros. Ao mesmo tempo ‘difíceis’ e imediatas, enigmáticas e encantadoras, as imagens perfeitas em todo o filme nos lembram miniaturas persas infundidas em ecstasy.”
A cor da romã (Rússia, 1969), de Sergei Parajanov.
Referência: 1001 filmes para ver antes de morrer. Steven Jay Schneider. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.