O desprezo

O desprezo (Le mépris, França/Itália, 1963), de Jean-Luc Godard. O filme abre com uma sequência icônica, das mais famosas relacionadas ao erotismo feminino. Camille (Brigitte Bardot) está nua, enquanto a câmera percorre seu corpo, ela pergunta ao marido, o roteirista Paul Javal (MIchel Piccoli), se ele gosta desta e daquela parte de seu corpo. 

A trama segue a crise conjugal do casal. Eles estão na Itália, Paul tenta fechar um contrato para escrever a adaptação para o cinema do romance Odisseia, de Homero. O diretor será Fritz Lang, que interpreta a si mesmo, em participação especial. A crise do casal se expõe definitivamente quando Jerry Prokosch (Jack Palance), produtor do filme, entra em cena. Camille se entrega em um jogo de sedução e traição com o produtor que resultará em um desfecho trágico, após uma bela carta de despedida ao marido. 

O desprezo é um filme sobre o cinema, bem ao estilo rebelde de Godard que anos depois romperia com a narrativa tradicional (após a criação do Grupo Dziga Vertov). 

“Ainda mais porque se trata aqui de suscitar (e excitar) o dito cinema tradicional no momento mesmo da sua dissolução: os últimos suspiros das grandes produções, as ruínas do sistema de estúdio. Décadas mais tarde, em suas Histoire(s) du cinéma (1988-1998), Godard dirá que nada pode ser chamado de arte até o fim de sua época (e que a única coisa que sobrevive a uma época é justamente a arte criada por ela). De certa forma, pois, O desprezo realiza o ‘filme tradicional’ como arte justamente ao decretar a morte de sua época. Há assim, ao mesmo tempo, uma euforia juvenil (delírio da linguagem) e uma certa melancolia nessa realização.” – Felipe de Moraes. 

Referência: Godard inteiro ou o mundo em pedaços. Eugênio Puppo e Mateus Araújo (organização). Catálogo produzido pela Fundação Clóvis Salgado para a retrospectiva Jean-Luc Godard, exibida na Sala Humberto Mauro.

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