
Tiro de misericórdia (Der fangschulft, Alemanha, 1976), de Volker Schlondorff.
Erich von Lhomond (Matthias Habich) é um oficial do exército alemão que, após a Primeira Guerra Mundial, comanda suas tropas na luta contra o Exército Vermelho, nos Países Bálticos. Grande parte da trama se passa na Letônia, na propriedade da família de Konrad von Reval (Rüdiger Kirschstein), soldado e amigo de Erich. Sophie von Reval (Margarethe von Trotta), irmã de Konrad, administra a propriedade e sua simpatia pelos comunistas vai provocar a virada trágica da narrativa.
O diretor Volker Schlondorff, na época casado com Margarethe von Trotta, adaptou o romance homônimo de Marguerite Yourcenar. O filme tem como tema central um sugestivo triângulo amoroso: Sophie se apaixona por Erich, que a rechaça de forma agressiva – a sugestão é sobre a relação entre Erich e Konrad. Em uma cena, Volkmar, soldado apaixonado por Sophie, declara: “Ele (Erich) é esperto, conquista a irmã para tentar conquistar o irmão.”
O título do filme alude a um dos finais mais tristes e frios do cinema de todos os tempos. Sophie, grande personagem da narrativa, passa por um processo de degradação moral, motivada pela frieza com que é tratada por Erich, cuja verdadeira paixão é a guerra. Segundo a própria Sophie, “onde ele pode provar sua virilidade masculina”.
Sophie abandona a propriedade e se junta aos comunistas, sendo considerada traidora. Ela é capturada pelas tropas de Erich e ouve com dignidade a sentença: “nenhum dos lados está fazendo prisioneiros.” Diante de seu amor, no gesto final, Sophie revela sua admirável força social, política e humana.