
Rapsódia em agosto (Hachigatsu no rapusodi, Japão, 1991), de Akira Kurosawa.
No seu penúltimo filme, Kurosawa (com 81 anos) volta seu olhar para o passado atormentado do Japão contemporâneo. Em uma simples e bela casa nas montanhas, próxima a Nagasaki, a idosa Kane (Sachiko Murase) recebe seus quatro netos adolescentes para passarem juntos as férias de verão. Ela conta histórias para os netos sobre seus irmãos, sempre pontuadas por passagens assombrosas, sobre seu marido, sobre ela mesma, histórias com um ponto em comum: a explosão da bomba atômica em Nagasaki, que ela presenciou, no dia 9 de agosto de 1945.
Os netos visitam os monumentos erguidos em lembrança à tragédia, vão à escola onde o avô deles morreu vítima da explosão, remoem sentimentos contraditórios sobre os EUA, mas são apaziguados pela avó que diz: “a culpa é da guerra.”
Kurosawa recebeu críticas à época do lançamento do filme em Cannes, principalmente nos EUA, motivadas pelo pedido de desculpas do americano Clark (Richard Gere) em visita à sua tia Kane em Nagasaki. A força do filme está na relação entre netos e avô, nas lembranças, na ternura que nasce mesmo após tragédias tão inacreditáveis na história da humanidade.
O belo final, a corrida trôpega dos netos na chuva, perseguindo a avó que acredita estar revivendo o dia da bomba, filmada em câmera lenta na chuva, é quase um testamento do cinema contemplativo e reflexivo de Akira Kurosawa.
