Onibaba – A mulher demônio

OnibabaA mulher demônio (Japão, 1964), de Kaneto Shindô. Com Nobuko Otawa, Jitsuko Yoshimura, Kei Satô, Taji Tonoyama, Jukichi Uno. 

O filme começa com uma bela sequência, evidenciando o primor fotográfico que acompanhará a trama. Uma plantação de juncos ondulando ao vento, fotografia em preto e branco, dois samurais feridos caminham pela plantação. Um silvo e duas lanças atravessam os juncos se cravando nos feridos. Duas mulheres surgem ofegantes, despojam os homens de suas vestes, arrastam os cadáveres até um imenso e negro buraco, onde são jogados. 

Onibaba – A mulher demônio foi filmado durante três meses em uma plantação de juncos real. Os atores e atrizes foram submetidos às adversidades do tempo e das dificuldades retratadas no filme, como correr em alta velocidade entre os juncos. O diretor Kaneto Shindô compôs com realismo um thriller que oscila entre o suspense, o terror, mas o que salta aos olhos é o erotismo, a sensualidade retratada de forma a trazer à tona o sexo selvagem que envolve os protagonistas.

Japão, século XIV. O país está em uma guerra civil interminável e a população, principalmente os camponeses, praticamente não têm o que comer. As duas mulheres, cujos nomes não são revelados, são sogra e nora. O filho e marido está lutando na guerra. Elas sobrevivem assassinando homens que se embrenham nos juncos para trocar seus despojos por comida. Esse é o verdadeiro horror da película, a miséria, os assassinatos costumeiros que assolam as estradas e campos. Atenção para a cena em que as duas matam um cachorro e o comem sofregamente. 

O jovem Hachi (Kei Satô), volta da guerra. Ele conta que o filho da anciã, e marido da mais nova, morreu em batalha. Faminto, ele passa a participar dos atos das mulheres. Ele mora em uma cabana próxima. O desejo entre os dois jovens explode, em cenas tórridas, com nudez ousada, dentro da cabana, no meio dos juncos, molhados pela chuva. Esse desejo provoca a reviravolta da trama, com o aparecimento, ou criação, da mulher demônio. 

O ponto forte do filme é mesmo a bela direção de fotografia que explora repetidas vezes a beleza dos juncos, associada a uma trilha sonora impactante. A corrida dos amantes em direção um ao outro representa esse desejo carnal irrefreável, enquanto a mulher demônio encarna a moralidade e a repressão. Como pano de fundo, a crueldade que assolou o Japão medieval quando clãs forçaram os homens a lutar em guerras sem sentido, afundando o país em miséria e fome.