Crisântemos tardios

Crisântemos tardios (Zangiku monogatari, Japão, 1939), de Kenji Mizoguchi. 

O professor e crítico de cinema Sérgio Alpendre comenta que este filme marca o surgimento do famoso estilo de Mizoguchi conhecido como one scene one shot (um plano compreende toda uma cena, um corte introduz uma nova cena e um novo plano). Segundo o crítico, isso aconteceu quase por acaso, devido a uma necessidade da produção. 

“Mizoguchi queria trabalhar com Shotaro Hanayagi, um ator muito famoso do teatro Kabuki, mas ele já estava com cinquenta anos e interpreta no filme o papel de um jovem ator inexperiente. Como driblar isso? Filmar com planos abertos, filmar à distância, raramente aproximar a câmera do ator. Uma outra necessidade foi que Shotaro tinha dificuldade com o cinema, dificuldade com planos curtos, ele precisava ter aquela tensão teatral mantida por muito tempo. Mizoguchi então orientou o diretor de fotografia a alongar o plano, trabalhar com grande angular, planos abertos. Isso não era comum na época, não era comum também na cinematografia japonesa, mas Mizoguchi impôs sua vontade e deu certo.”

Na trama, Kikunosuke Onue (Shotaro Hanayagi) é filho de um dos maiores atores do teatro japonês. O jovem trabalha também como ator na companhia teatral do pai, mas sofre com as comparações; sua inexperiência o coloca sempre em dúvida sobre seu talento na interpretação. Ele resolve então abandonar a Companhia e empreende uma jornada pelo Japão, em busca de aprimoramento de sua arte. A grande motivação desse ato foi um diálogo sincero que Otoku (Kakuko Mori), empregada da família, manteve com Kiku, quando diz que ele nunca foi um bom ator, todos os elogios que recebe são em respeito ao pai dele.  

Os dois se apaixonam e a empregada segue com o ator em sua jornada. O melodrama se apresenta, pois em algum momento, Kiku deve escolher entre o amor por Otoku ou pela sua arte, que exige entrega total. 

Referência: Extras do DVD O cinema de Mizoguchi, vol. 2. Versátil.

Elegia de Osaka

Elegia de Osaka (Naniwa Ereji, Japão, 1936), de Kenji Mizoguchi, é um dos primeiros filmes falados do diretor japonês. A trama acompanha Ayako (Isuzu Yamada), uma  jovem trabalhadora de uma fábrica de tecidos que, assim como outras companheiras, sofre com os assédios do Sr. Asai (Yôko Umemura), proprietário da empresa. O pai de Ayako pede uma boa quantia em dinheiro para a filha, pois seu negócio está falido e ele pode ser processado e preso. Para conseguir o dinheiro, a jovem aceita ser amante do Sr. Asai. 

A crítica à sociedade patriarcal, umas das grandes marcas de Mizoguchi, encontra em Elegia de Osaka a face cruel e desprezível desse sistema. Ayako perde seu namorado, que não a aceita depois de saber de sua posição, e tenta dar um golpe em um amigo do seu amante. Os homens seguem seu destino tranquilamente, depois de explorar e sacrificar Ayako.

O estilo de Mizoguchi também segue seu processo de amadurecimento, marcado pelos planos longos, pouco movimento de câmera e o cenário servindo para esconder os personagens em momentos dramáticos. A cena final,  Ayako olhando fixamente para a câmera é um dos grandes momentos do cinema referencial, sendo amplamente repetida a partir daí em outros filmes, como Os incompreendidos (1959), de Truffaut.