
Cinzas do passado redux (Dung che sai duk, Hong Kong, 2008), de Wong Kar Wai.
O filme abre com a câmera percorrendo em travelling um deserto amarelo exuberante. Voz do narrador do filme: “É um ano de eclipse total, a seca assola a terra. Seca significa problemas. Problemas significam bons negócios. Eu sou da Montanha do Camelo Branco. Me chamo Feng. Sou especialista em resolver problemas.”
Ou-yang Feng (Leslie Cheung) foi um famoso espadachim, esses artistas das artes marciais que se consagraram no cinema oriental desde Os sete samurais (1954), de Akira Kurosawa. Feng se exila na montanha após ser abandonado pelo seu grande amor. A especialidade em “resolver problemas” a que Feng se refere é intermediar a contratação de assassinos de aluguel. “Matar em si, não é um problema. Tenho um amigo que conhece certas artes marciais. Ele está um pouco sem sorte ultimamente. Por uma pequena taxa ele ficará feliz em livrá-lo dessa pessoa.” Diz Feng a um interlocutor.
O gênero chinês wuxia ganha contornos estéticos fascinantes nas mãos e olhar de Wong Kar Wai. O ritmo lento, demarcado pela extravagante profusão de cores, closes em momentos tensos, personagens que parecem voar em câmera lenta nas cenas de luta – o estilo Wong Kar Wai.
Cinzas do passado foi lançado em 1994 e passou por um longo processo de restauração, O filme original tinha cópias em versões diferentes, todas já em processo de deterioração. O próprio diretor coordenou a restauração que resultou na “versão definitiva”, aprimorada em seus elementos estéticos, com alterações na estrutura narrativa, incluindo novas músicas. A narrativa, centrada nos sentimentos de frustração e melancolia dos protagonistas, é entremeada por cenas artísticas de combates entre os guerreiros espadachins, inaugurando um estilo que se consagraria com filmes como O tigre e o dragão (2000), de Ang Lee, e a trilogia de Zhang Yimou: Herói (2002), O clã das adagas voadoras (2004) e A maldição da flor dourada (2006).








