Enter The Void: Viagem alucinante

Gaspar Noé faz uma alucinante incursão pelo mundo metafísico, abordando a pós-morte e a encarnação. Oscar é um jovem traficante de drogas que vive em Tóquio, junto com sua irmã Linda, streaper de uma boate. Seus melhores amigos são Victor e Alex – que lhe apresenta um livro tibetano sobre experiências espirituais após a morte. 

Oscar vai a um clube noturno, The Void, entregar drogas a Victor, mas é traído pelo amigo: a polícia o espera para prendê-lo em flagrante. Refugiando-se no banheiro, Oscar é alvejado pelos policiais. 

O ponto de vista em primeira pessoa é o trunfo da película. A cãmera segue o olhar de Oscar pelo submundo da Tóquio noturna, regada a sexo, bebidas e drogas, esteticamente marcada pelas infindáveis luzes estroboscópicas, o neon agressivo da cidade. 

Após a morte, o espírito de Oscar vagueia pela cidade em longos planos gerais, a famosa câmera fantasma dos primórdios do cinema. O espírito espreita, entra na intimidade de seus entes queridos, sem julgamentos, apenas um observador atento à procura de seu destino. 

Enter The Void: Viagem alucinante (França, 2009), de Gaspar Noé. Com Nathaniel Brown (Oscar), Paz de la Huerta (Linda), Cyril Roy (Alex), Olly Alexander (Victor), Masato Tanno (Mario). 

Clímax

Lettering avisa, na abertura, que a trama é inspirada em fatos reais. Logo após, uma série de imagens em planos fechados apresentam ao público vinte personagens, dançarinos, que vão se reunir em um internato no meio da floresta gelada, para um ensaio de três dias. 

Corta para o galpão onde acontecem os ensaios. Após um dos ensaios, acontece uma festa regada a bebidas e drogas. Passo a passo, os dançarinos se comportam de forma alucinada, agressiva, cada um revelando desejos e instintos incontroláveis. Aparentemente, alguém colocou um tipo de droga na bebida servida na festa. 

O polêmico e ousado diretor Gaspar Noé usa desse ato comum, no Brasil conhecido como “Boa noite Cinderela”, para compor um retrato insano, agressivo, erótico, quase repulsivo, desse grupo de jovens enclausurados. A montagem do filme usa de tomadas longas, planos-sequências, travellings desordenados. 

Em Clímax, Gaspar Noé não precisou recorrer a um dos seus elementos fílmicos favoritos: filmagem de cenas de sexo explícitas. A insanidade que toma conta dos dançarinos e a própria insanidade da linguagem bastam para provocar o espectador.  

Climax (França, 2018), de Gaspar Noé.