O-Bi, O-Ba – O fim da civilização

O-Bi, O-Ba – O fim da civilização (O-Bi, O Ba. Koniec cywilizacji, Polônia, 1984), de Piotr Szulkin.

O filme apocalíptico de Piotr Szulkin se passa em uma terra destruída pela explosões nucleares. Cerca de oitocentos sobreviventes vivem em um abrigo chamado de A Cúpula, que ameaça desmoronar a qualquer momento. Resta apenas uma esperança: a chegada da Arca para levar os sobreviventes para um lugar que possivelmente ainda é seguro. 

A lenda da Arca é mantida por meio de um rigoroso sistema de doutrinação, cujos responsáveis, entre eles Soft (Jerzy Stuhr), controlam de forma até mesmo violenta. A fome, doenças, revoltas, sabotagens, frio extremo, fazem parte do cotidiano dos habitantes da Cúpula. Piotr Szulkin continua com seu olhar crítico e severo sobre a Polônia dominada pelos regimes autoritários, compondo um ambiente opressivo, com tons fortes dos estilos expressionistas e cyberpunk.

O diretor polonês se consagrou com uma espécie de tetralogia futurista com claras alusões ao regime político de seu país: Golem (1979), A guerra dos mundos: próximo século (1981), O-Bi, O-Ba: o fim da civilização (1985) e Ga-ga: glória aos herois (1986).

A guerra dos mundos: próximo século

O diretor polonês Piotr Szulkin dedicou A guerra dos mundos: próximo século (Wojna światów – Następne stulecie, Polônia, 1981) a H. G. Wells e Orson Welles. O motivo é uma homenagem à célebre narração que Orson Welles realizou em uma emissora de rádio em 1938 (30 de outubro, noite de Halloween) interpretando trechos do livro de Wells. O estilo de interpretação de Orson Welles provocou pânico em milhares de ouvintes que acreditaram que a terra estava sendo invadida pelos marcianos. 

A narrativa de A guerra dos mundos: próximo século acontece na Polônia, véspera do ano novo. Um grupo de marcianos domina o país, necessitando de sangue dos terráqueos para viver. O protagonista Iron Ide (Roman Wilhelmi), um locutor de TV de programa sensacionalista, se vê envolvido em uma trama que envolve os marcianos e o poder do estado. As consequências envolvem censura, delação de colegas de trabalho, acirramento do controle do estado por meio do controle midiático, violência praticada pelos marcianos, sequestro e desaparecimento de pessoas. 

O filme, claramente uma alegoria do poder do estado comunista na Polônia, segue a prática consagrada durante a guerra fria de inserir fortes questões ideológicas em filmes do gênero ficção científica. A fotografia noir acentura o estado de opressão e terrorismo que acompanha a narrativa, com um final que deixa em aberto essas obscuras tramas políticas. 

Golem

Golem (Polônia, 1979), de Piotr Szulkin, abre com uma narração, sustentada por imagens de explosões nucleares: “Em 1941, após a catástrofe nuclear, numa sociedade cuja existência estava seriamente ameaçada, surgiram rumores de pessoas produzidas artificialmente. Uma das fontes desses rumores talvez fosse uma lenda arcaica do homem feito de barro, trazido à vida ao colocarem um papel com uma fórmula mágica em sua boca. As crenças populares até hoje de que tais experimentos fizeram parte do programa de reconstrução da humanidade são só superstições.”

Corta para plano fechado de médicos em um processo cirúrgico, comentando sobre o ser que estão criando/modificando geneticamente. Pernat (Marek Walczewski), o experimento, foge aos padrões definidos: na sociedade, ele apresenta uma personalidade marcada pela compreensão e pela bondade. Monitorado, ele é considerado um espécie defeituoso e deve ser eliminado. 

O primeiro filme do diretor polonês Piotr Szulkin apresenta um mundo distópico que teria sido criado por explosões nucleares durante a Segunda Guerra Mundial. A narrativa se passa em uma cidade escura e decrépita, prédios destruídos, becos sujos, apartamentos deformados, seguindo a estética expressionista/noir. O olhar gótico e pessimista do diretor sobre essa sociedade (a Polônia controlada pelo regime comunsta?) não deixa margem para esperanças.