Um outro mundo

Phillippe é um executivo de sucesso de uma fábrica em uma cidade da França – controlada por uma corporação multinacional. A crise que se anuncia exige de Philippe e seus comandados corte de custos na folha de pagamento, acarretando um planejamento de demissões. Os funcionários se mobilizam e exigem de Phillippe clareza nos boatos que circulam entre eles. 

O diretor Stéphane Brizé retoma a parceria com Vincent Lindon, iniciada no ótimo filme O valor de um homem (2015). O tema de Um outro mundo também remete ao filme de 2015: as relações de trabalho afetadas pela crise econômica que provoca disputas pessoais e a negação de valores éticos e morais nos ambientes de trabalho. 

Em uma cena sintomática, a líder dos operários cobra de Philippe sinceridade sobre o que está acontecendo na empresa. A resposta do executivo provoca o dilema ético que se estende pela narrativa, perpassando também pelas relações pessoais de Philippe com sua esposa e filho. 

Um outro mundo (França, 2021), de Stéphane Brizé. Com Vincent Lindon (Phillippe), Sandrine Kiberlain (Anne), Anthony Bajon (Lucas), Marie Drucker (Claire).

O valor de um homem

O valor de um homem é um golpe preciso no sistema capitalista que condena cidadãos ao desemprego e à busca desesperada por condições de subsistência. Thierry tem 50 anos e está desempregado há cerca de dois anos. Passa os dias em entrevistas, ouvindo solenemente que não é adequado para os cargos que pretende. Em casa, junto com a mulher, cuida com carinho do filho deficiente. Até que consegue emprego como segurança de uma loja de departamentos.

Desse ponto em diante, Thierry se confronta com seus princípios, pois tem que vigiar e delatar pessoas comuns que furtam objetos dentro da loja e seus próprios colegas de trabalho que burlam normas para conseguir um dinheiro a mais no final do mês. Os encontros entre os seguranças e os acusados na sala de interrogatório da empresa são exemplares da crueldade fria deste sistema que coloca cidadãos como bandidos, humilhados diante da câmera.

O ator Vincent Lindon foi premiado no Festival de Cannes e com o César, Oscar do cinema francês. A linguagem despojada é outro grande trunfo, quase um documentário (a maioria dos atores são amadores). O filme é construído com uma câmera fria, planos fechados no tormento de Thierry e dos acusados,  cortes secos em sequência evidenciando um cinema feito de olhar direto e sofrido.

O valor de um homem (La loi du marché, França, 2015), de Stéphane Brizé. Com Vincent Lindon, Karine de Mirbeck, Matthieu Schaller.