Estranho acidente

A história começa com Stephen sozinho em sua casa de campo, à noite. Ele ouve o som de um acidente, corre até a estrada e se depara com um carro capotado. Anna é retirada com vida, mas o jovem William está morto. Narrativa em flashback reconstitui os dias anteriores ao acidente. A bela e sedutora Anna é aluna de Stephen, namora William e tem um caso com Charley, escritor e amigo do professor. 

O diretor Joseph Losey buscou abrigo na Inglaterra na década de 60 para fazer seus filmes – ele entrou para a deprimente lista negra de Hollywood durante o macarthismo. Estranho acidente traz a sua marca, refletida em personagens marcados por desejos, obsessões, a necessidade íntima de almejar vidas diferentes. Stephen, casado, sua mulher está grávida, deseja sua bela aluna, enquanto nutre inveja do sucesso de seu amigo Charley, tanto profissional como no campo das seduções. 

A trama é baseada no romance de Harold Pinter, com roteiro do dramaturgo Harold Pinter, outro autor perseguido por suas convicções políticas. O filme conquistou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes.   

Estranho acidente (Accident, Inglaterra, 1967), de Joseph Losey. Com Dirk Bogarde (Stephen), Stanley Baker (Charley), Jacqueline Sassard (Anna), Michael York (William), Vivien Merchant (Rosalind).

Charlotte e seu bife

Este curta experimental foi filmado em 1951 como um filme mudo. Quase dez anos depois, Éric Rohmer resgatou a película e sonorizou a narrativa, com dublagens de Stéphane Audran e Anna Karina, uma das musas da nouvelle-vague. Mas o grande destaque é a participação de Jean-Luc Godard, com 21 anos, interpretando Walter.

Charlotte está esperando o horário do trem e, antes do embarque, vai até seu apartamento para preparar uma refeição rápida. Walter a acompanha e, enquanto Charlotte prepara um bife, fica o tempo todo encostado na parede. Os diálogos são curtos, os gestos se dividem entre a espera pelo bife (cujo tamanho impede de ser dividido entre os dois) e sugestões amorosas.  

O curta é mais um exemplo de como jovens realizadores, no caso os ainda críticos da Cahiers Du Cinema, se envolvem em projetos colaborativos, trabalhando com ideias simples e fascinantes. 

Charlotte e seu bife (Presentation ou Charlotte et son steak, França, 1960), de Éric Rohmer.