A teia de chocolate

Os filmes de Claude Chabrol flertam sempre com o thriller psicológico através de tramas que surpreendem pela complexidade dos personagens. Em A teia de chocolate, a esposa do pianista André morre em um acidente de carro. Ele volta a se casar com sua primeira esposa, Mika, especialista em chocolates. A rotina do casal muda de forma avassaladora quando a jovem Jeanne entra em cena, trazendo à tona um mistério do passado de André, envolvendo uma possível troca de bebês na maternidade. 

A narrativa não fornece grandes surpresas, os enigmas do passado, envolvendo também a morte da primeira esposa de André, se tornam previsíveis à medida que a narrativa avança. O destaque da película é Isabelle Huppert/Mika que, através de seus chocolates, seduz, inebria e se revela cada vez mais e mais perigosa. 

A teia de chocolate (Merci pour le chocolat, França, 2000), de Claude Chabrol. Com Isabelle Huppert (Mika), Jacques Dutronc (André Polonski), Anna Mouglalis (Jeanne), Rodolphe Pauly (Guillaume Polonski). 

A noite americana

François Truffaut sempre afirmou como o cinema americano foi importante em sua formação de cineasta. Ele disse que assistiu mais de 1.500 filmes estadunidenses, escreveu críticas poderosas a respeito do cinema clássico e publicou um dos livros mais importantes sobre cinema da história: Hitchcock/Truffaut – Entrevistas

A noite americana é sua grande homenagem ao cinema que amava e por extensão ao cinema do mundo inteiro. É um filme sobre o processo de fazer filmes, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. 

O próprio Truffaut interpreta Ferrand, um diretor de cinema durante a realização de um filme de gênero. Sua estrela é a bela Julie Baker que faz par romântico com Alexandre. Durante as filmagens, as relações entre a equipe apresentam as nuances típicas das relações de trabalho: conflitos, agressividades, afetuosidade, relações amorosas, sexuais… Cabe a Ferrand apaziguar tudo isto, pois tudo que ele deseja é terminar seu filme. 

“Truffaut realça a transitoriedade, a fragilidade e a irrealidade da vida em uma locação de filmagem – deixando até mesmo, em uma cena hilária e surpreendente, que um intruso solte o verbo para criticar essa gente de cinema por sua imoralidade desenfreada. A noite americana expõe de forma carinhosa muitas ilusões do processo de filmagem – como podemos constatar quando o sentido de seu título é revelado – mas mantém a nossa admiração diante da magia dos filmes. Como ocorre em outras obras de Truffaut, as cenas de montagem rápida – dedicadas ao frenesi da sala de edição, ou a complicada cena filmada com neve artificial – exprimem afeto profundo e apreço pelas coisas práticas de seu ofício.”

A noite americana (La nuit américaine, França, 1973), de François Truffaut. Com François Truffaut (Ferrand), Jacqueline Bisset (Julie Baker), Jean-Pierre Léaud (Alphonse), Valentina Cortese (Séverine). Jean-Pierre Aumont (Alexandre).  

Referência: 1001 filmes para ver antes de morrer. Steven Jay Schneider. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.