Clímax

Lettering avisa, na abertura, que a trama é inspirada em fatos reais. Logo após, uma série de imagens em planos fechados apresentam ao público vinte personagens, dançarinos, que vão se reunir em um internato no meio da floresta gelada, para um ensaio de três dias. 

Corta para o galpão onde acontecem os ensaios. Após um dos ensaios, acontece uma festa regada a bebidas e drogas. Passo a passo, os dançarinos se comportam de forma alucinada, agressiva, cada um revelando desejos e instintos incontroláveis. Aparentemente, alguém colocou um tipo de droga na bebida servida na festa. 

O polêmico e ousado diretor Gaspar Noé usa desse ato comum, no Brasil conhecido como “Boa noite Cinderela”, para compor um retrato insano, agressivo, erótico, quase repulsivo, desse grupo de jovens enclausurados. A montagem do filme usa de tomadas longas, planos-sequências, travellings desordenados. 

Em Clímax, Gaspar Noé não precisou recorrer a um dos seus elementos fílmicos favoritos: filmagem de cenas de sexo explícitas. A insanidade que toma conta dos dançarinos e a própria insanidade da linguagem bastam para provocar o espectador.  

Climax (França, 2018), de Gaspar Noé.

A ilha de Bergman

Tony é diretor de cinema e sua namorada Chris, roteirista. Eles desembarcam na Ilha Faro, onde Ingmar Bergman fez alguns de seus importantes filmes. A ilha é um ponto turístico associado a Bergman: casas e praias que serviram de locação, a casa de Bergman, uma associação que promove debates após a exibição de filmes do famoso cineasta sueco.

A trama de A ilha de Bergman segue o processo criativo do casal de cineastas enquanto perambulam pela ilha. Tony é um diretor famoso, seguro de seu trabalho, Chris uma roteirista em crise que não consegue desenvolver seu novo projeto. 

A virada da trama acontece quando Chris conta ao namorado a ideia de seu filme. A metalinguagem toma conta, um filme dentro do filme, como duas realidades paralelas na ilha, trazendo à tona revelações e dramas do passado da roteirista. A diretora Mia Hansen-Love aproveita do clima bucólico e intimista da ilha, como se o cinema de Bergman ainda pairasse ali, para compor duas histórias de amor ternas, sem melodrama, embaraçando realidade e ficção.  

A ilha de Bergman (França, 2021), de Mia Hansen-Love. Com Vicky Krieps (Chris), Tim Roth (Tony), Mia Wasikowska (Amy), Anders Danielsen Lie (Joseph).