Casamento ou luxo

Charles Chaplin busca uma espécie de alternativa em sua carreira ao dirigir Casamento ou luxo (1923), um drama ambientado em Paris. O diretor tomou o cuidado de alertar o público, inserindo uma cartela nos créditos: “Para evitar qualquer mal-entendido, gostaria de precisar que não apareço neste filme.”

A trama acompanha Marie, jovem da província enamorada de um pobre artista. O acaso impede que os dois embarquem para Paris. Sozinha na cidade, Marie se torna amante de um playboy rico, bem ao estilo de um bon vivant da aristocracia parisiense. 

Com forte apelo melodramático, o filme foi um fracasso de público e crítica, deixando Chaplin ressentido. “Meu filme Casamento ou Luxo não teve sucesso na América porque o final não dava margem à esperança e, ainda, porque descrevia a vida tal como ela é. Ao público, ao contrário, agrada que o protagonista escape da morte inevitável, que a mulher volte finalmente para ele, para uma vida feliz. No entanto, Casamento ou Luxo é quase uma tragédia. A tragédia me agrada, e agrada porque sobre sua base há sempre qualquer coisa de belo. E, para mim, o belo é o que há de mais precioso na arte e na vida. É conveniente ocupar-se da comédia quando ali se encontra esse motivo de beleza, mas isso é tão raro.” – Charles Chaplin. 

Casamento ou luxo (A woman of Paris, EUA, 1923), de Charles Chaplin. Com Edna Purviance (Marie St. Clair), Carl Miller (Jean Millet), Adolphe Menjou (Pierre Revel). 

Referência: Coleção Folha Charles Chaplin. Casamento ou Luxo. Um filme dirigido por Charles Chaplin. Cássio Starling e Pedro Maciel Guimarães. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2012.

Europa

O americano Leopold Kessler chega a Frankfurt logo após o término de Segunda Guerra para trabalhar como condutor de uma grande empresa ferroviária. A Zentropa está nos planos dos americanos para reconstruírem o sistema de transporte alemão. No entanto, os trens são atacados por um grupo de nazistas, conhecidos como Lobisomens. 

Europa fecha a trilogia de Lars von Trier de tramas ambientadas no continente, os outros são Elemento de um crime (1984) e Epidemia (1987). Kessler é um jovem idealista que sonha em ajudar na reconstrução da Alemanha. Ele se envolve com a bela e sedutora Katharina, filha do dono da Zentropa, que o envolve num perigoso jogo entre os americanos e os simpatizantes nazistas. 

A enigmática narração em off guia Kessler e, consequentemente, o espectador na trama. A narração é quase um transe hipnótico, misteriosa e envolvente.  A claustrofobia das cenas noturnas durante as viagens dos trens remetem a uma Europa sem rumo, reforçada pela exuberante fotografia em preto e branco, que em alguns momentos se mescla com cores (atenção para a montagem da sequência do casamento) claramente com referências do cinema noir. O filme conquistou três prêmios no Festival de Cannes, incluindo o Prêmio do Júri, e colocou Lars von Trier no foco internacional. 

Europa (Dinamarca, 1991), de Lars von Trier. Com Jean-Marc Barr (Leopold Kessler), Barbara Sukowa (Katharina Hartmann), Udo Kier (Lawrence Hartmann), Jorgen Reenberg (Marx Hartmann).