
April (Geórgia/França, 2024), de Dea Kulumbegashvili.
O filme começa com a imagem difusa de uma criatura disforme que se move lentamente, a tela negra, a criatura diminuta ao fundo. Ouve-se o diálogo de duas crianças enquanto a criatura se afasta até desaparecer. Cota para a cena de uma forte chuva, é o alagado mês de abril em uma província da Geórgia.
A narrativa acompanha Nina (Ia Sukhitashvili,), obstetra que trabalha no único hospital da província. Após a morte do bebê durante um parto, Nina é acusada de negligência pelos pais da criança e passa a ser investigada pela direção do hospital. A investigação pode levar à revelação de uma prática criminosa: Nina faz abortos em mulheres abusadas sexualmente na região.
O segundo longa-metragem da diretora Dea Kulumbegashvili aborda o conflito entre questões legais, éticas e humanas. Nina é uma profissional reconhecida no mundo médico, mas transita com uma amargura quase suicida pelas ruas enlameadas da província, disposta a ajudar as mulheres que são torturadas pela sociedade misógina e patriarcal.
Um destaque: em tempos de supremacia digital, o filme foi filmado em 35mm, com a direção de fotografia de Arseni Khachaturian evidenciando o clima de amargura, tristeza e falta de esperança da narrativa. April conquistou o Prêmio Especial do Júri no 81º Festival Internacional de Cinema de Veneza.
