Home

Home (Coreia do Sul, 2023), de Jeong Jae-hee. Com Yang Mal-bok.

Uma jovem abre a porta do quarto e vê sua mãe estendida no chão. Ela faz compressões no coração da vítima mas é tarde. A mãe morrera por falta do remédio, pois sozinha não conseguia tomá-lo. 

Em um processo de luto, a jovem separa pertences e cartas da mãe e começa a ter visões repentinas e sutis da mãe. A imagem do corpo caído no quarto volta outras vezes, em uma montagem que sugere fatos não revelados sobre a morte, talvez a pressão psicológica da morte desejada. 

A fotografia noir domina a narrativa. Planos, ângulos, cortes, elipses, o curta se apropria sem pudor dos elementos do gênero terror para sugerir traumas passados. A montagem invertida sugere ao espectador fragmentos de memória ou de sonhos assustadores. Difícil lidar com a culpa quando se está só em casa à noite, pensando no que assombra o quarto ao lado.

A empregada

Hanyo, a empregada (1960) é um dos maiores sucessos comerciais e de crítica do cinema sul coreano. O remake A empregada (2010) de Im Sang-Soo preserva a história original, transpondo a trama para a atualidade. 

Eun-yi é contratada como empregada doméstica por Hoon Goh, um rico empresário. Hae-ra, mulher do empresário, está grávida. Eun-yi começa uma relação fraterna e carinhosa com a filha do casal. No entanto, o empresário seduz Eun-yi e os dois começam um perigoso jogo erótico e sexual. A trama resvala para o thriller quando entra em cena a mãe de Hae-ra e as duas começam a ameaçar a empregada. 

O filme é uma incursão tórrida e violenta no conflito de classes da Coreia, com um final estarrecedor. A interpretação de Jeon Do-yeon no papel da empregada é o ponto alto do filme. De possível vítima, ela entra de forma arriscada em um complexo jogo que envolve intrigas, traições, manipulações e vingança. Eun-yi passa por uma das grandes transformações de personagem do cinema contemporâneo. Ponto para o roteiro.

A empregada (Coreia do Sul, 2010), de Im Sang-Soo. Com Jeon Do-yeon (Eun-yi Li), Lee Jung-jae (Hoon Goh), Woo Seo (Hae-ra), Park Ji-young (Hae-ra ‘s mother).

Hanyo, a empregada

Essa aclamada produção sul-coreana, sucesso de bilheteria nos anos 60, influenciou a história de Parasita, de Bong Joon Ho. A trama, filmada quase integralmente em interiores, se passa entre uma escola e a casa do professor de música Dong Sik (Jin Kyu Kim). No começo, durante uma das aulas, ele é assediado por duas alunas. Uma delas é suspensa da escola, deflagrando um conflito entre o professor e suas alunas. 

No entanto, o verdadeiro conflito acontece quando o músico contrata Myung-Sook (Eu-Shim-Lee), uma jovem empregada, para ajudar sua esposa, grávida do terceiro filho. Myung-Sook começa a seduzir o patrão, revelando passo a passo seus planos diabólicos, nascidos de uma mente doentia. 

É um suspense aterrador (atenção para a sequência do possível envenenamento do filho caçula da família) que aborda a fria divisão de classes na Coréia. A obsessão sexual domina a narrativa em mais uma obra-prima deste ousado novo cinema dos anos 60. 

Hanyo, a empregada (Coreia do Sul, 1960), de Kim Ki-Young. 

Aloners

Jina (Gong Seung-Yeon), trabalha no centro de atendimento telefônico de uma empresa de cartão de crédito. Ela vive sozinha e evita qualquer tipo de relacionamento mais próximo, inclusive com seu pai. Considerada a melhor funcionária da empresa, sua chefe a incube de treinar uma nova atendende. Contra sua vontade, Jina aceita, mas não demonstra interesse nenhum na evolução da atendente. 

Aloners reflete o título: o grande tema do filme é a solidão em uma sociedade marcada pelas relações eletrônicas, frias. Jina passa seus dias aceitando e reforçando seu comportamento solitário. No entanto, a visão misteriosa de um fantasma no corredor do prédio onde ela mora pode traçar novos rumos. 

O grande momento do filme é um diálogo telefônico de um cliente que diz ter inventado uma máquina do tempo e precisa de um cartão de crédito que funcione em 2002. Questionado pela jovem atendente sobre porque ele deseja voltar a 2002, o cliente responde: por causa da Copa do Mundo Coreia/Japão, quando as pessoas se encontravam nas ruas, nos estádios, se abraçavam emocionadas. 

Aloners (Coreia do Sul, 2021), de Hong Sung-Eun. 

A vilã

A sequência inicial é de tirar o fôlego e digna de reverência ao atual cinema asiático: alguém entra em um prédio, a câmera em visão subjetiva mostra lutas coreografadas, personagens em sequência entram em combate e são trucidados passo a passo. No final, o espectador descobre que a assassina é Sook-hee, a vilã do título, em busca de vingança. 

Sook-hee foi treinada desde criança para ser assassina e seu passado esconde um trauma: ela assistiu ao assassinato do pai. Romance, ação, violência, sangue em profusão se misturam na trama à medida que a jovem trilha seu caminho de vingança. Flasbacks tentam elucidar a trama, mas a narrativa se mostra intrincado quebra-cabeça. Resta se entregar às impressionantes sequências de ação, com destaque para o longo ataque em visão subjetiva do início do filme. 

A vilã (Ak-Nyeo, Coréia do Sul, 2017), de Jung Byung-Gil. Com Kim Ok-Bin, Shin Ha-Kyun, Sung Jun.