Please baby, please

É ótimo encontrar filmes contemporâneos nos quais a estética noir ainda provoca forte influência. O grande trunfo de Please baby, please é o visual extravagante, pontuado por números musicais também estranhos e por fortes doses de violência e erotismo. 

No início da trama, o casal formado por Suze e Arthur presencia uma gangue gótica assassinando um homem a pontapés no beco da cidade. Os dois passam a ser chantageados pela gangue, mas entre os riscos de violência e morte, desenvolvem um complexo fascínio: Suze fica cada vez mais obcecada pelo visual e estilo da gangue; Harry se entrega ao desejo por Teddy, um dos integrantes. 

O roteiro não traz atrativos, muito menos surpresas. O destaque fica por conta da estética, da participação especial de Demi Moore e da interpretação caricata de Andrea Riseborough (indicada ao Oscar em 2022 por To Leslie).  

Please baby, please (EUA, 2022), de Amanda Kramer. Com Andrea Riseborough (Suze), Harry Melling (Arthur), Demi Moore (Maureen), Karl Glusman (Teddy), Ryan Simpkins (Dickie), Cole Escola (Billy). 

A praga

José Mojica Marins, o Zé do Caixão, filmou A praga em 1980, mas não terminou o filme. Era o início de uma década praticamente perdida para o cinema brasileiro, quando muitos cineastas, sem condições de financiamento, incerraram a carreira. 

Em 2007, foram encontrados rolos de filmes super-8 com o material bruto de A praga. O material foi digitalizado, cenas adicionais foram gravadas, mas novamente tudo foi arquivado. Finalmente, em 2021 o filme passou pelo processo de restauração em alta resolução, com tratamento de som e imagem. 

A narrativa é simples e provocativa: um fotógrafo é alvo de uma praga de uma senhora durante um final de semana, quando tenta tirar fotos dela em seu sítio. A bruxa passa a atormentar o fotógrafo de forma escabrosa, torturando-o com visões macabras que o fazem consumir carne crua por uma chaga aberta no ventre. 

O próprio José Mojica Marins narra a história, pontuada por suas aparições também tenebrosas. A praga é o único filme inédito do cultuado mestre do terror brasileiro. 

A praga (Brasil, 1980/2023), de José Mojica Marins. Com Felipe Von Reno, Wanda Kosmo, Sílvia Gless. 

Aos nossos filhos

Vera coordena uma ONG que acolhe e encaminha para adoção crianças de uma comunidade carioca, inclusive crianças soropositivas. Sua filha Tânia e a namorada, Vanessa, tentam ter um filho através de inseminação artificial. O passado de Vera nas prisões da ditadura militar, quando foi torturada, vem à tona quando ela é entrevistada por Sérgio, um jovem que está escrevendo um livro sobre sua mãe, companheira de cela de Vera. 

A trama desenvolve dois núcleos fortes: a relação conflituosa entre Tânia e Vera, angustiada e incerta diante do desgastante processo de inseminação; e as lembranças dolorosas de Vera no submundo dos porões militares. Destaque para a sequência do cemitério, quando Vera se vê finalmente diante de seu maior tormento, revelador da cruel e desumana prática de tortura no Brasil dos generais, que muitos ainda insistem em negar. Outros, também criminosos, prestam homenagens oficiais a torturadores. 

Aos nossos filhos (Brasil, 2019), de Maria de Medeiros. Com Marieta Severo (Vera), Laura Castro (Tânia), Cláudio Lins (Sérgio), José de Abreu (Fernando), Marta Nobrega (Vanessa).