Após o aclamado e polêmico O império dos sentidos, Nagisa Oshima fez essa obra centrada em um triângulo amoroso movido pela paixão, crime e culpa. É também uma história de fantasmas.
Em uma vila japonesa do final do século XIX, a bela e desejada Seki é casada com Gisaburo, um condutor de riquixá. Toyo, um jovem rebelde e inconsequente, seduz Seki e os dois começam um tórrido relacionamento sexual (atenção para a cena em que Toyo pede que a amante raspe suas partes íntimas).
Não é spoiler: em histórias assim, o marido sempre é assassinado. Essa virada no roteiro provoca a ruína dos amantes, cada vez mais entregues à paixão e à culpa. Seki começa a ser assombrada pelo fantasma do marido que implora para que o tirem do poço onde seu cadáver foi jogado. A partir daí, o destino trágico dos amantes está traçado. Mais uma vez, o erotismo do cinema de Nagisa Oshima provoca o espectador com violência.
O império da paixão (Ai no borei I, Japão, 1978), de Nagisa Oshima. Com Kazuko Yoshiyuki (Seki), Tatsuya Fugi (Toyoji), Takahiro Tamura (Gisaburo).
Jeff (James Stewart), um repórter fotográfico, está imobilizado na cadeira, com a perna engessada. Para passar os dias, ele bisbilhota com a zoom de sua câmera fotográfica os apartamentos do prédio em frente ao seu. Vê o prédio em plano geral, quando se interessa por uma situação, aproxima seu olhar de uma das janelas, se envolve com o cotidiano dos moradores: uma mulher de meia-idade em desilusão amorosa, um jovem casal em excitante lua-de-mel, um músico alcoólatra, uma jovem e provocativa dançarina, um casal em crise com discussões cada vez mais violentas. Em uma destas viagens voyeristas, Jeff suspeita que o homem deste último quadro matou a mulher.
No livro Hitchcock/Truffaut Entrevistas, o diretor François Truffaut instiga Hitchcock sobre o seu desafio em Janela indiscreta (Rear window, EUA, 1954): “Imagino que, no início, o que o tentou foi o desafio técnico, pagar para ver. Um único cenário imenso e todo o filme visto pelos olhos do mesmo personagem…” A resposta de Hitchcock define a audácia conceitual deste que é, na opinião da maioria dos críticos, o melhor filme do mestre do suspense.
“Exatamente, pois você tinha aqui uma possibilidade de fazer um filme puramente cinematográfico. Você tem o homem imóvel que olha para fora… É um primeiro pedaço de filme. O segundo pedaço mostra o que ele vê e o terceiro mostra a reação dele. Isso representa o que conhecemos como a mais pura expressão da ideia cinematográfica. Você sabe o que Pudovkin escreveu a respeito disso, num de seus livros sobre a arte da montagem, em que contou a experiência feita por seu mestre Lev Kulechov. A coisa consistia em mostrar um primeiro plano de Ivan Mosjukin e, logo em seguida, o plano de um bebê morto. No rosto de Mosjukin lê-se a compaixão. Retira-se o plano do bebê morto e coloca-se a imagem de um prato de comida. No mesmo primeiro plano de Mosjukin, agora você lê o apetite. Da mesma maneira, pegamos um primeiro plano de James Stewart. Ele olha pela janela e vê, por exemplo, um cachorrinho que desce, dentro de uma cesta, até o pátio; voltamos a Stewart, ele sorri. Agora, no lugar do cachorrinho que desce dentro da cesta, mostramos uma moça nua que se requebra diante de sua janela aberta; voltamos ao mesmo primeiro plano de James Stewart sorridente e, agora, ele é um velho safado!.” – Hitchcock
O clube do filme, de David Gilmour, trata da relação entre pai e o filho adolescente, abordando problemas comuns à geração: a falta de perspectiva, envolvimentos amorosos, drogas, sexo. Tudo narrado de forma fria e direta, sem o objetivo de incutir no leitor lições de moral, são apenas relatos pontuados pelas dúvidas de pai. Os diálogos são secos, sinceros. A sinopse: Jesse, adolescente, não se dá bem na escola, suas notas são medíocres. O pai propõe a Jesse que abandone a escola desde que assistam juntos a pelo menos três filmes por semana, escolhidos pelo pai. É o clube do filme. A partir desses encontros, a relação entre os dois assume um caráter mais íntimo.
A seguir, trechos do livro sobre Clint Eastwood, diretor e ator que faz parte da minha seleta lista de nomes favoritos do cinema.
Dava para passar um bocado de tempo vendo os filmes de Clint. Comecei listando cinco coisas que admirava nele.
Adoro o jeito como ele mostra quatro dedos para o fabricante de caixões, em Por um punhado de dólares, e diz: “Me enganei. São quatro caixões’”.
Adorei, como ressaltou o crítico britânico David Thomson, a postura de Clint ao lado do príncipe Charles no National Film Theatre, em Londres, em 1993. Para todo o mundo na platéia, ficou claro quem era o príncipe de verdade.
Adoro o fato de Clint nunca dizer “Ação!” quando dirige um filme. Ele diz calmamente, em voz baixa: “Quando estiverem prontos.”
Adoro ver Clint caindo de seu cavalo em Os imperdoáveis (1992).
Adoro a imagem de Clint, no papel do detetive Dirty Harry, descendo a pé uma rua de São Francisco com uma arma em uma das mãos e um cachorro-quente na outra.
Contei a Jesse uma breve conversa que tive certa vez com William Goldman, que escreveu o roteiro de Butch Cassidy (1969) e, mais tarde, o de Poder absoluto (1997), para Eastwood. Goldman o adorava: “Clint é o melhor”, ele me dissera. “Um profissional completo, num mundo dominado pelo ego. Com Eastwood, você chega, faz seu trabalho e volta para casa; geralmente volta cedo, porque ele quer jogar golfe. E ele almoça na lanchonete do estúdio, como todo mundo.